“Harry Potter” rendeu muito dinheiro. Por mais
que a integridade artística da criadora, J.K. Roling a levasse a dizer que a
história estava encerrada, era bastante claro que o estúdio, e os produtores
envolvidos em algum momento iriam encontrar um modo de retomar o filão. Fosse por
meio de um derivado, ou de uma continuação direta ou indireta.
É assim, então, que chegamos a este “Animais
Fantásticos e Onde Habitam”, que se passa cronologicamente algumas décadas
antes das aventuras do bruxinho na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts –nunca
ficou muito claro em que época se passavam as histórias de Harry Potter, mas
podemos presumir, por este daqui, que isso se dava no presente –e foca sua
atenção em Newt Scamander (Eddie Redmayne, de “A Teoria de Tudo” numa atuação
arredia, acanhada e titubeante), escritor bruxo, autor do livro que dá nome à
este novo filme –e que, à título de informação, era um livro utilizado nas
aulas das crianças em Hogwarts.
Newt chega à Nova York em meados da década de
1950, e o filme (em seu esplendor visual estonteante) vale-se justamente desse
detalhe –ambientar-se nos EUA –para elaborar infindáveis cenas de encher os
olhos (afinal, os outros filmes todos se passam exclusivamente na Inglaterra). Ele
tem uma missão específica, que nunca ganha a devida importância na narrativa:
Isso porque tão logo chega às ruas de N.Y., Newt arruma uma enorme confusão
quando alguns dos animais mágicos que ele carrega em sua maleta (!), começam a
escapar graças às confusões envolvendo o humano normal Jacob (Dan Fogler,
construindo um personagem com zelo e sensibilidade) que depois se torna seu
amigo.
Todas essas confusões atraem a atenção da
ex-investigadora Tina (Katherine Waterston, de “Vício Inerente”, aparentando
inadequação no papel de mocinha desajeitada e tímida) que, assim como muitos
bruxos de N.Y. está atrás de uma criatura mágica que tem provocado caos e
destruição nas ruas, e que pode estar relacionada ao inspetor vivido por Colin
Farrel (o desfecho guarda uma surpresa interessante envolvendo este personagem), ou ao jovem estranho interpretado por Ezra Miller, membro do misterioso
culto de uma mulher alienada e ameaçadora (Emily Watson).
O diretor David Yates parece ter nascido para
dirigir as obras ambientadas neste universo mágico (ele é o realizador dos
quatro últimos filmes da franquia, sendo de longe o diretor que mais trabalhou
com os filmes de Harry Potter): Sua condução é mais do que apenas exemplar e
envolvente, ela é apaixonada, dando ênfase aos vários detalhes que compõe a
narrativa, abrilhantando aspectos, conduzindo-os com apreço e interesse. Seu
amor por aquele universo e aqueles (numerosos) personagens e conceitos é
perfeitamente visível e impregnado em cada frame, o seu outro filme lançado em
2016, “A Lenda de Tarzan”, nem chega perto de demonstrar a mesma perícia e
desenvoltura.
Outro acerto feliz do filme é o fato de ser roteirizado
pela própria criadora J.K. Rowling, o quê dá ao filme unidade, incipiência
narrativa, equilíbrio e solidez, as mesmas características que ela soube levar
à prosa das versões literárias.
Se há um problema em “Animais Fantásticos”,
eles são seus protagonistas. Vencedor do Oscar de Melhor Ator em 2015, Eddie
Redmayne emprega em Newt Scamander inúmeras características de outros
personagens que interpretou, fazendo dele um apanhado de tiques e hesitações
que não casam com um protagonista à frente de uma produção dessa envergadura.
De certa maneira o mesmo vale para Katherine Waterston, que demora quase toda a
primeira metade do filme para convencer o expectador.
Mas, se os dois protagonistas são hesitantes,
os dois coadjuvantes que os acompanham são maravilhosos: Tanto Dan Fogler,
quando a bela e encantadora Alison Sudol, no papel de Queenie, irmã de Tina,
são sensacionais e cativantes –desde já torço para que ambos estejam na
continuação.
O diretor Yates parece
compreender e perceber isso, jogando sobre os dois toda a atenção na bonita e
singela cena final.
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