domingo, 21 de maio de 2017

Cinquenta Tons Mais Escuros

Sem o elemento ligeiramente atrativo de estabelecer o ponto de partida da história, resta a “Cinqüenta Tons Mais Escuros” dar continuidade a tudo o que o filme anterior tinha de enfadonho: O romance claudicante ocasionado por cenas de sexo (cujo teor erótico vai paulatinamente perdendo a força justamente devido a sua repetição).
Uma pena para o diretor James Foley (que, veja só, realizou o ótimo “O Sucesso A Qualquer Preço”) que encarou esta barca furada depois que a diretora do filme anterior, Sam Taylor Johnson, abandonou o projeto –Foley, nota-se, faz o que pode (ao que parece, ele está também confirmado na terceira parte, a ser realizada meio que simultaneamente), mas o filme é tão amplamente desinteressante que nem mesmo o fato de ser ou não fiel ao livro adaptado (já ele bastante pobre de qualidade) não faz grande diferença.
Os apaixonados e lascivos Anastassia Stelle (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) haviam se separado na cena final de “Cinqüenta Tons de Cinza”. O novo filme retoma um certo fio narrativo logo depois disso.
Anastassia, ou melhor, Ana, tem um compromisso com a exposição fotográfica do amigo José (Victor Rasuk). Será lá onde ela reencontrará Christian, e retomarão seu relacionamento de onde tinha parado.
Em sua condução prosaica, o novo filme ameniza involuntariamente todos os aspectos que, no livro, ainda guardavam um mínimo de intensidade.
Como costuma ocorrer em adaptações literárias, muitas das passagens são narradas num ritmo errado, deixando tudo muito rápido e superficial –característica que já aparecia no primeiro filme, mas que se ressalta neste daqui –resta assim ao diretor Foley destacar a elegância geral e predominante da produção que, a medida que a duração vai se estendendo, começa a parecer um comercial televisivo de qualquer coisa, tamanha a beleza e a limpeza de todos os móveis, figurinos e adereços que parecem em cena.
Uma roupagem luxuosa que não demora a cansar os olhos.
As cenas de sexo seriam outro destaque se não fossem tratadas de modo evasivo pela narrativa –sexo no cinema sempre foi uma coisa complicada, ou trabalha-se com ele de maneira velada e sugestiva, ou escancara-se suas intenções. É preciso que a direção compreenda os objetivos da história para que essa abordagem seja narrativamente relevante, caso contrário, seu excesso pode ser compulsivo, ou sua ausência pode ser frustrante.
Ao longo de seu filme, Foley oscila entre esses dois extremos: Ele evita as cenas na medida do possível durante a primeira parte, mas quando se rende a elas (que surgem filmadas com um pudor estético maior que o do filme anterior) deixa que se sucedam sem critérios.
É uma obra sem conflitos, onde as poucas inserções de suspense soam desconexas e sem harmonia com o todo: São elas, a nebulosa perseguição de uma antiga ex-namorada de Christian (Bella Heathcote) à Ana (resolvida de maneira breve e rasteira); a gradual transformação do novo chefe de Ana (Eric Johnson), de amigável e sorridente à abusivo e ameaçador (esse plot, aliás, é um gancho usado para conectar o desfecho à vindoura parte final); e, por fim, a presença, finalmente revelada, da mulher madura que iniciou Christian Grey no sexo, e que aqui posiciona-se para Ana como um obstáculo, Elena Lincoln (um participação especial de Kim Basinger, uma atriz muito interessante e empática que não merecia marcar presença numa obra tão equivocada).
Ah, sim, e não vamos nos esquecer da cena do acidente de helicóptero, feita para acrescentar tensão e dramaticidade ao enredo, mas tão rápida –e igualmente resolvida de maneira breve e rasteira –que chega a soar destoante e irrisória.
Como ator, Jamie Dornan faz um trabalho convencional, deixando com indiferença que a câmera explore seu corpo sarado para a satisfação do público feminino, já, Dakota Johnson, filha da atriz Melanie Griffith, compensa sua beleza discreta com uma entrega inesperada nas cenas de nudez –a cena mais interessante dela, entretanto, é quanto tem uma rápida conversa com uma secretária: Numa referência graciosa, ela reproduz o mesmo diálogo feito por sua própria mãe no melhor filme de sua carreira, “UmaSecretária de Futuro”.
Uma pena que a lembrança daquele excelente filme só faz ressaltar a mediocridade deste.

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