sábado, 24 de junho de 2017

Amnésia

“Lembre-se de Sammy Jenkins!”
A sub-trama envolvendo o personagem (fantasma?) de Sammy Jenkins (Stephen Stobolowski) que acompanha a história deste filme é uma das muitas sacadas geniais, as quais o expectador descobrirá, no fim (ou seria no começo?), o quanto deveria ter prestado atenção, neste e em tantos outros detalhes.
Certos filmes representam uma experiência distinta para o expectador. “Amnésia”, de Christopher Nolan, com sua trama organizada em ordem inversa (cada segmento de cerca de 15 minutos corresponde à cena anterior daquela que virá em seguida) simula uma experiência assim: A de uma memória dissolvida no esquecimento que, aos poucos, regride à mente, uma recordação perdida que pouco a pouco vai voltando.
É uma maneira inteligente e incisiva que o diretor Nolan encontrou para fazer com que o expectador se sentisse na mesma condição do protagonista. Leonard Shelby (Guy Pierce, fabuloso), outrora um pacato investigador de seguros, sofre de um caso inusitado de perda de memória recente –esquece progressivamente tudo o que acontece desde que teve a mente avariada num ataque criminoso. O mesmo ataque onde teve sua esposa morta.
Sofrendo dessa patologia, ele tem um objetivo: Vingar-se dos bandidos que fizeram isso.
Mas, como mover uma investigação sendo que sua própria mente é incapaz de reter novas informações?
A saída, para Leonard, é deixar freqüentes recados para ele próprio em forma de tatuagens no próprio corpo, tirar ocasionais polaróides das coisas e das pessoas (e nelas escrever suas impressões) e encontrar subterfúgios para notificar a si mesmo.
Nessa jornada tortuosa, pontuada por elementos intrínsecos ao gênero noir, que lhe é tão precioso, o diretor Nolan confronta seu protagonista com personagens de invariável impressão dúbia, como a mulher interpretada pela bela Carrie Anne-Moss e o ex-policial petulante vivido por Joe Pantoliano (ambos no elenco do primeiro “Matrix” lançado dois anos antes).
Nolan –auxiliado pelo espetacular roteiro escrito em conjunto com seu irmão Jonathan –parece lançar uma pergunta ao público: Até que ponto é possível confiar nas outras pessoas, ou em si mesmo, quando sua própria memória lhe trai?
Os conseqüentes desdobramentos e respostas para essa pergunta são alguns dos elementos francamente geniais deste filme ocasionalmente inovador.

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