sábado, 24 de junho de 2017

Mississipi Em Chamas

Pense nas melhores atuações da carreira de Gene Hackman. Pense no mais tenso filme policial. No mais brutal retrato do racismo. Agora coloque tudo em um só filme. Foi isso que o diretor Alan Parker basicamente fez neste antológico “Mississipi Em Chamas”.
Durante os anos 1960, nas rigidamente segregadas comunidades sulistas do Mississipi, três jovens estudantes idealistas (dois brancos e um negro) são assassinados. Para solucionar o caso que esbarra diretamente no predominante racismo local são designados dois agentes do FBI, um jovem e comprometido com as leis, as autoridades e a ética (Willen Dafoe, num trabalho admirável), e outro veterano, acostumado aos meandros nem sempre corretos, necessários para resolver um crime (Gene Hackman, estupendo).
Os dois batem de frente com a corrupção vigente no sistema local (e que, em função da natureza dos homicídios, revela-se um obstáculo ainda maior para o cumprimento da lei), com a complexidade da elucidação do que exatamente ocorreu e com a forte segregação sulista que não raro desemboca em ocorrências violentas.
Concebido nos anos 1980 –época provavelmente do auge criativo do diretor –e amparado numa alarmante história real (a partir da qual a produção elaborou um trabalho com poderosas inclinações de um cinema à moda antiga), este filme policial mostra-se brilhante nos mais diversos aspectos, a começar pelo fenomenal contraponto entre a interpretação de Gene Hackman e a caracterização bastante dedicada de um ainda jovem Willem Dafoe.
Em meio às imagens vigorosas captadas pela fotografia magistral (ganhadora do Oscar), o diretor Parker registra então uma série de embates: O novo contra o antiquado (e, em sua orientação de propósito, ele parece beneficiar a eficácia dos veteranos), a segregação contra a conciliação, a violência contra a racionalidade, enfim, a lei contra o crime.
Podem argumentar que existe uma série de opções de ordem demagógica que norteiam sua realização (sobretudo, no que diz respeito ao desfecho bem-sucedido das investigações oposto ao que aconteceu na realidade), mas não há como questionar a excelência cinematográfica que é atingida aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário