Um primoroso e brutal registro do medíocre
perpetrado pelos Irmãos Coen, “Fargo” começa com um take no qual o magnífico
William H. Macy é enquadrado.
Sua expressão define tudo aquilo de que os Coen
querem, e irão, falar: O ser humano medíocre e humilhado que, em seu desespero
é capaz de atitudes imputáveis a ele.
Afirmam os créditos que este é um fato real e,
embora isso tenha convencido o público em 1996, quando este filme foi lançado,
hoje, sabe-se que foi mais uma inusitada manobra de seus realizadores.
Contudo, há mesmo um verniz de espantoso
realismo a pairar sobre a trama.
O personagem de Macy, Jerry é um gerente de uma
revendedora de carros. A falta de dignidade com que é tratado na empresa (que
pertence ao seu sogro) lhe é tão insuportável quanto o desconforto da neve que
cai durante todo o filme.
Assim, munido da crença de que pode lucrar de
forma ilícita por meio de um crime supostamente perfeito, ele contrata dois
meliantes (o irrequieto Steve Buscemi e o truculento Peter Stormare) para seqüestrar
sua esposa fazendo assim com que seu sogro sovina e rabugento lhe pague o
resgate.
Inicialmente aparentando profissionalismo, os
bandidos contratados vão encontrando pequenos e imprevistos percalços pelo
caminho (elementos que parecem fazer a farra dos Coen enquanto contadores de
história) e terminam inadvertidamente criando um verdadeiro rastro de
cadáveres. Atrás de todos, na pista dos crimes cometidos está Marge (Frances
McDormand) uma xerife grávida, cuja serenidade lhe aproxima cada vez mais dos
culpados.
Engenhosamente, o roteiro
dos Coen flerta com essa veracidade (contestada) dos acontecimentos expondo o
espectador a tipos inusitados, típicos de sua filmografia, liderados pela memorável
personagem de McDormand (Vencedora do Oscar de Melhor Atriz), neste painel eles
ilustram diversos momentos flagrantes, onde evidenciam uma espécie de sordidez
cotidiana do ser humano. As cenas que se seguem são irônicas para com os
aspectos de dissimulada encenação (o amigo de longa data de Marge com quem ela
se encontra e que mais tarde se revela um farsante), de desconcertante
banalidade (o ‘durante’ e o ‘depois’ contrastantes da transa dos dois bandidos
com duas prostitutas anônimas), de franca repulsa (a seqüência em que a câmera
explora a mesa de um restaurante por quilo) e de enrustida selvageria (quando
um dos assassinos, na maior calma, usa uma máquina para moer o corpo de uma de
suas vítimas). Ainda que pontuado de uma ocasional graciosidade, este é um
suspense de humor negro, e isso certamente pode incomodar certos públicos.
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