sexta-feira, 21 de julho de 2017

Fargo

Um primoroso e brutal registro do medíocre perpetrado pelos Irmãos Coen, “Fargo” começa com um take no qual o magnífico William H. Macy é enquadrado.
Sua expressão define tudo aquilo de que os Coen querem, e irão, falar: O ser humano medíocre e humilhado que, em seu desespero é capaz de atitudes imputáveis a ele.
Afirmam os créditos que este é um fato real e, embora isso tenha convencido o público em 1996, quando este filme foi lançado, hoje, sabe-se que foi mais uma inusitada manobra de seus realizadores.
Contudo, há mesmo um verniz de espantoso realismo a pairar sobre a trama.
O personagem de Macy, Jerry é um gerente de uma revendedora de carros. A falta de dignidade com que é tratado na empresa (que pertence ao seu sogro) lhe é tão insuportável quanto o desconforto da neve que cai durante todo o filme.
Assim, munido da crença de que pode lucrar de forma ilícita por meio de um crime supostamente perfeito, ele contrata dois meliantes (o irrequieto Steve Buscemi e o truculento Peter Stormare) para seqüestrar sua esposa fazendo assim com que seu sogro sovina e rabugento lhe pague o resgate.
Inicialmente aparentando profissionalismo, os bandidos contratados vão encontrando pequenos e imprevistos percalços pelo caminho (elementos que parecem fazer a farra dos Coen enquanto contadores de história) e terminam inadvertidamente criando um verdadeiro rastro de cadáveres. Atrás de todos, na pista dos crimes cometidos está Marge (Frances McDormand) uma xerife grávida, cuja serenidade lhe aproxima cada vez mais dos culpados.
Engenhosamente, o roteiro dos Coen flerta com essa veracidade (contestada) dos acontecimentos expondo o espectador a tipos inusitados, típicos de sua filmografia, liderados pela memorável personagem de McDormand (Vencedora do Oscar de Melhor Atriz), neste painel eles ilustram diversos momentos flagrantes, onde evidenciam uma espécie de sordidez cotidiana do ser humano. As cenas que se seguem são irônicas para com os aspectos de dissimulada encenação (o amigo de longa data de Marge com quem ela se encontra e que mais tarde se revela um farsante), de desconcertante banalidade (o ‘durante’ e o ‘depois’ contrastantes da transa dos dois bandidos com duas prostitutas anônimas), de franca repulsa (a seqüência em que a câmera explora a mesa de um restaurante por quilo) e de enrustida selvageria (quando um dos assassinos, na maior calma, usa uma máquina para moer o corpo de uma de suas vítimas). Ainda que pontuado de uma ocasional graciosidade, este é um suspense de humor negro, e isso certamente pode incomodar certos públicos.

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