terça-feira, 4 de julho de 2017

Power Rangers

A gênese da série “Power Rangers” foi das mais picaretas: Basicamente, a produtora Saban adquiriu os direitos de exibição daqueles seriados japoneses, como “Changeman” –que chegou a ser exibido no Brasil em meados dos anos 1980 –e, naquela mania norte-americana de tentar evitar material estrangeiro, fizeram uma espécie de “adaptação”; as cenas de diálogos, nas quais a trama era inserida e o elenco principal era mostrado, foram substituídas por um elenco americano no melhor estilo “Malhação”, enquanto que as cenas que envolviam ação, lutas, e efeitos especiais foram mantidas –recurso possível porque os heróis japoneses sempre usavam máscaras que lhes escondiam todo o rosto. O resultado era uma colagem quase sempre mambembe e desvairada –“Power Rangers” desenvolvia assim histórias próprias e um bocado descerebradas.
Essa tática extremamente barata garantiu longevidade à série e, nesse processo, dezenas de seriados com super-heróis japoneses foram reciclados.
O tempo passou e “Power Rangers”, apesar de toda sua aura fuleira, virou objeto de nostalgia.
Isso serve mais ou menos para chegarmos ao longa-metragem para cinema, lançado em 2017 –ele não é o primeiro: Quando a série ainda era exibida, nos anos 1990, foi realizado um longa-metragem para cinema com o elenco original, ligeiramente superior à série, o quê, convenhamos, não quer dizer muita coisa...
Mas, com este novo filme as coisas são diferentes.
Os personagens, a trama e a mitologia que criou-se em torno da série ganham aqui um respeito que o produto original nunca fez por merecer.
Dirigido com disposição por Dean Israelite o filme compensa a condução de atores frouxa e afetada com uma técnica narrativa sempre admirável: O filme já se inicia com dois momentos muito interessantes; o prólogo que rapidamente estabelece a história de Zordon e os ‘rangers’ e a cena seguinte onde a câmera registra um acidente de dentro do carro e realiza diversos giros de 360 graus.
A trama que segue a partir daí depõem a favor do bom-senso de seus realizadores que usaram da mais palatável dentre todas as referências cinematográficas para esse tipo de filme –“O Clube dos Cinco”, de John Hugues.
As semelhanças são até gritantes: Começa em uma sala de detenção (até o cenário lembra bastante o filme de Hugues!), e trata então de apresentar seus personagens –o esportista descolado, Jason (Dacre Montgomery); a patricinha rejeitada pelas outras, Kimberly (Naomi Scott); o nerd inteligente, divertido e vítima eventual de bulliyng, Billy (RJ Cyler). Aos três, mais tarde, somam-se o rebelde descendente de orientais Zack (Ludi Lin) e a desajustada Trini (Becky G).
Juntos, eles encontram a nave na qual as informações acerca dos ‘rangers’ –assim como o espírito de Zordon (Bryan Cranston), nela confinado –irão lhes revelar o destino heróico que lhes aguarda.
Era de se supor que a presença dos mais veteranos Bryan Cranston e Elizabeth Banks (como a carnavalesca vilã Rita Repulsa) compensasse a inexperiência dos atores mais jovens, contudo, ao invés de solidez, eles ostentam o mesmo desleixo.
Mas, o filme, verdade seja dita, beneficia-se de uma expectativa bastante amena em relação ao projeto –quem em sã consciência, mesmo que aficcionado em “Power Rangers” na infância –encararia o filme esperando uma obra-prima?
Do jeito como está, o trabalho de Israelite, embora não escape de algumas falhas pontuais (ritmo apressado em muitos momentos, caracterização afetada, edição irregular), é muito bom: É o tal caso em que os acertos compensam amplamente os erros.

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