Se “Procurando Nemo” era toda uma odisséia
física –um contraponto à deficiência do peixinho que tinha uma nadadeira
defeituosa –“Procurando Dory” (que agora nomeia sua outrora coadjuvante como
protagonista) é sobre as armadilhas da memória.
Na trama (cuja inteligente narrativa preenche
lacunas a respeito da trajetória de Dory vislumbrada em partes durante
“Procurando Nemo”) descobrimos que Dory teve uma família; um pai e uma mãe. Ela
também os descobre quando tem um lampejo deles durante o sono –ela agora mora
numa anêmona próxima a Nemo e Marlin.
Diante da descoberta, a peixinha azul decide
partir para reencontrá-los, o quê ela não mais conseguiu fazer desde quando
ainda era criança.
E pronto: Eis aí um gancho por meio do qual a
Pixar aproveita para exercer sua imbatível técnica narrativa, seu dinamismo ao
construir um roteiro –mais aprimorado a cada nova animação –e, sobretudo, a
maneira inspirada e travessa com que expressa seu senso de humor. Em “Dory” a
ação pode soar restrita quando uma sinopse afirma que a trama se passa dentro
de um parque aquático –e não em mar aberto como “Nemo” –mas, os realizadores da
Pixar transformam isso num mero detalhe: Tão rica é a variedade visual com a
qual eles constroem suas cenas, tão plural é a forma com que trabalham as
diversas personalidades das dezenas de criaturas (melhores exemplos: a
divertida baleia Destiny e o cínico polvo Bruce) que vão surgindo nas trajetórias
paralelas de Dory e de Marlin e Nemo, que se tem a certeza de que esta
continuação, seja em escopo, seja em abordagem técnica e artística, é sim uma
evolução comparado ao filme anterior.
E como não amar uma animação cujo desfecho nos
brinda com a música “What A Wonderfull World”, de Louis B. Armstrong?
No fim das contas, “Procurando Dory” deixa a
objetividade em segundo plano –embora nunca deixe de ser, em si, objetivo –para
concentrar-se no sentimento: A memória é, de fato, uma zona de armadilhas
potenciais quando as lembranças insistem em escapar. Mas, como bem nos ensina
Dory, o ato de registrar quem amamos talvez não esteja na mente propicia ao
esquecimento, mas dentro de nosso coração.
Vocês acertaram de novo,
Pixar!
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