Décadas antes das adaptações de histórias em
quadrinhos virarem febre em Hollywood, houve um projeto –hoje, envolvido em
merecida roupagem lendário –visto como algo arriscado: A intenção do produtor
Ilya Salkind, em levar para as telas, ainda no fim dos anos 1970, uma versão
cinematográfica do Superman.
Esse objetivo esbarrava num obstáculo técnico:
Como mostrar, com absoluto realismo o personagem voando pelos céus?
A despeito desse problema –um pouco parecido
com a dúvida ocasionada décadas depois, de como fariam, o Homem-Aranha se balançar
em prédios de modo plausível, no filme de Sam Raimi –Salkind fez dessa
expectativa uma das maiores armas do marketing da produção; a frase “Você vai
acreditar que o homem pode voar!” foi muito difundida naquele período.
Tudo deu certo porque o produtor escolheu o
diretor Richard Donner para o projeto. E Donner, conhecedor dos meandros
cinematográficos, cercou-se de um time de primeira em frente e atrás das
câmeras: Em especial, o diretor de fotografia de “2001-Uma Odisséia No Espaço”,
Geoffrey Unsworth, a trilha sonora de John Williams (imediatamente transformada
num ícone), e o roteiro de Mario Puzo (o mesmo de “O Poderoso Chefão”).
O grande acerto de Donner, contudo, foi no
elenco –não somente nas presenças incrivelmente renomadas, como Gene Hackman ou
Valerie Perrine, mas, acima de tudo, na escolha audaz e inigualável do inglês
Christopher Reeve para viver o personagem principal.
O resultado: Uma versão que dificilmente será
superada.
Ignorado pelas autoridades maiores de seu
planeta Krypton, o cientista Jor-El (Marlon Brando, como sempre espetacular)
alerta-os em vão de que o sol vermelho em torno do qual orbitam está prestes a
explodir levando Krypton com ele.
Decidido a salvar a vida de seu único filho, o
pequeno Kal-El, mesmo que em sacrifício da sua própria vida e a de sua esposa,
Lara (Susannah York), Jor-El o coloca numa nave e o envia a um planeta chamado
Terra, no qual os intensos estudos de Jor-El revelaram que o organismo de
Kal-El cresceria forte, quase indestrutível, devido aos raios de seu sol
amarelo.
Após a destruição de Krypton –uma cena filmada
com extrema propriedade e valor artístico –e a longa jornada através do espaço
sideral, o bebê kriptoniano enfim chega à Terra, onde é adotado pelo casal de
fazendeiros, Jonathan (Glenn Ford) e Martha Kent (Phyllis Thaxter), que não têm
filhos. Anos depois, já adulto e com o nome de Clark Kent (vivido nesta fase
por Jeff East), ele parte para viajar o mundo e descobrir quem é, tendo como
única pista um fragmento de cristal vindo de seu mundo. Isso o leva ao pólo
norte onde é criada a Fortaleza da Solidão –uma espécie de templo tecnológico
nos moldes das estruturas que existiam em Kripton, dentro do qual depoimentos e
mensagens deixadas por seu pai, Jor-El, elucidam toda sua origem.
Clark (finalmente interpretado por Christopher
Reeve, a personificação definitiva do personagem) então passa a morar em
Metrópolis, sob a identidade de um pacato (e excessivamente aparvalhado)
repórter do Planeta Diário, enquanto ocasionalmente assume a identidade de Superman,
como o protetor maior do planeta que o acolheu, usando para isso seus assombrosos
poderes kriptonianos, como a capacidade de voar, a invulnerabilidade e a
superforça.
Não bastasse o cuidado assombroso com que
moldou a história, o diretor Donner pontuou seu filme com momentos
absolutamente antológicos que se sucedem quase sem parar: A destruição
assombrosa de Krypton; a corrida do herói, ainda adolescente, para alcançar o
trem; a primeira e espetacular aparição no salvamento do helicóptero em queda livre;
a entrevista algo íntima com Louis Lane (Margot Kidder), impregnada de
romantismo; a angustiante cena com a krytonita; o extraordinário salvamento de
um trem –onde o herói serve de ponte no lugar dos trilhos caídos –e muitos
outros!
É até possível aceitar o
ator Henry Cavill como a mais nova personificação do herói, mas ele
dificilmente conseguirá convencer as gerações que puderam ver Christopher Reeve
voar.
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