quarta-feira, 5 de julho de 2017

Superman - O Filme

Décadas antes das adaptações de histórias em quadrinhos virarem febre em Hollywood, houve um projeto –hoje, envolvido em merecida roupagem lendário –visto como algo arriscado: A intenção do produtor Ilya Salkind, em levar para as telas, ainda no fim dos anos 1970, uma versão cinematográfica do Superman.
Esse objetivo esbarrava num obstáculo técnico: Como mostrar, com absoluto realismo o personagem voando pelos céus?
A despeito desse problema –um pouco parecido com a dúvida ocasionada décadas depois, de como fariam, o Homem-Aranha se balançar em prédios de modo plausível, no filme de Sam Raimi –Salkind fez dessa expectativa uma das maiores armas do marketing da produção; a frase “Você vai acreditar que o homem pode voar!” foi muito difundida naquele período.
Tudo deu certo porque o produtor escolheu o diretor Richard Donner para o projeto. E Donner, conhecedor dos meandros cinematográficos, cercou-se de um time de primeira em frente e atrás das câmeras: Em especial, o diretor de fotografia de “2001-Uma Odisséia No Espaço”, Geoffrey Unsworth, a trilha sonora de John Williams (imediatamente transformada num ícone), e o roteiro de Mario Puzo (o mesmo de “O Poderoso Chefão”).
O grande acerto de Donner, contudo, foi no elenco –não somente nas presenças incrivelmente renomadas, como Gene Hackman ou Valerie Perrine, mas, acima de tudo, na escolha audaz e inigualável do inglês Christopher Reeve para viver o personagem principal.
O resultado: Uma versão que dificilmente será superada.
Ignorado pelas autoridades maiores de seu planeta Krypton, o cientista Jor-El (Marlon Brando, como sempre espetacular) alerta-os em vão de que o sol vermelho em torno do qual orbitam está prestes a explodir levando Krypton com ele.
Decidido a salvar a vida de seu único filho, o pequeno Kal-El, mesmo que em sacrifício da sua própria vida e a de sua esposa, Lara (Susannah York), Jor-El o coloca numa nave e o envia a um planeta chamado Terra, no qual os intensos estudos de Jor-El revelaram que o organismo de Kal-El cresceria forte, quase indestrutível, devido aos raios de seu sol amarelo.
Após a destruição de Krypton –uma cena filmada com extrema propriedade e valor artístico –e a longa jornada através do espaço sideral, o bebê kriptoniano enfim chega à Terra, onde é adotado pelo casal de fazendeiros, Jonathan (Glenn Ford) e Martha Kent (Phyllis Thaxter), que não têm filhos. Anos depois, já adulto e com o nome de Clark Kent (vivido nesta fase por Jeff East), ele parte para viajar o mundo e descobrir quem é, tendo como única pista um fragmento de cristal vindo de seu mundo. Isso o leva ao pólo norte onde é criada a Fortaleza da Solidão –uma espécie de templo tecnológico nos moldes das estruturas que existiam em Kripton, dentro do qual depoimentos e mensagens deixadas por seu pai, Jor-El, elucidam toda sua origem.
Clark (finalmente interpretado por Christopher Reeve, a personificação definitiva do personagem) então passa a morar em Metrópolis, sob a identidade de um pacato (e excessivamente aparvalhado) repórter do Planeta Diário, enquanto ocasionalmente assume a identidade de Superman, como o protetor maior do planeta que o acolheu, usando para isso seus assombrosos poderes kriptonianos, como a capacidade de voar, a invulnerabilidade e a superforça.
Não bastasse o cuidado assombroso com que moldou a história, o diretor Donner pontuou seu filme com momentos absolutamente antológicos que se sucedem quase sem parar: A destruição assombrosa de Krypton; a corrida do herói, ainda adolescente, para alcançar o trem; a primeira e espetacular aparição no salvamento do helicóptero em queda livre; a entrevista algo íntima com Louis Lane (Margot Kidder), impregnada de romantismo; a angustiante cena com a krytonita; o extraordinário salvamento de um trem –onde o herói serve de ponte no lugar dos trilhos caídos –e muitos outros!
É até possível aceitar o ator Henry Cavill como a mais nova personificação do herói, mas ele dificilmente conseguirá convencer as gerações que puderam ver Christopher Reeve voar.

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