Como todos os grandes diretores que já
demonstraram propriedade ao moldar o gênero de ação (Irmãs Wachowsky, Paul
Greengrass, Steve Sodenbergh), David Leitch compreende o fetiche inerente a
essa categoria de filme. Sua narrativa efusiva e diversificada cerca de
atributos e elementos visuais o corpo de Charlize Theron. E que corpo! –ela
materializa a mais perfeita e genuína versão feminina de James Bond desde que
esse objetivo ensaiou-se no cinema comercial.
Numa compreensão intrínseca que já havia
demonstrado da ação em “John Wick”, Leitch enxerga em Charlize Theron o objeto,
o modelo para experimentações, e ao longo das quase duas horas de “Atômica” ela
passará com honras por todas as variações mais brutais, técnicas e dramáticas
da ação.
Como se tal zelo não bastasse, Leitch se
beneficia do fato de que a trama desta adaptação de histórias em quadrinhos se
passa nos anos 1980 –mais precisamente, 1980, às vésperas da queda do Muro de
Berlim: O repertório do qual ele dispõe na trilha sonora é tão sensacional
quanto poderia ser.
Charlize Theron é Lorraine Broughton, uma
agente do MI6 –o Serviço de Inteligência Inglês –despachada para Berlim em uma
missão escorregadia: Oficialmente, trazer o corpo de um agente morto por lá;
extra-oficialmente, encontrar um microfilme tirado dele e que contém uma lista
de agentes infiltrados. Mais que isso: O nome mais procurado dessa lista, seja
por ingleses ou por soviéticos, é o do fantasmagórico agente Satchell, um
agente duplo –ou talvez até triplo! –à serviço da Coroa. Lorraine conta com a
ajuda pouco confiável de um agente britânico há anos baseado em Berlim chamado
David Percival (James McAvoy, uma escolha interessante para um personagem
irrequieto e ambíguo), além da aliança (ou oposição...) da sedutora agente
francesa Delphine Lasalle (Sofia Boutella, uma delícia!), e dos recursos
variados de um astuto contato no lado oriental de Berlim (Bill Skarsgaard, o
Pennywise de “It-A Coisa”).
O diretor David Leitch em momento algum se
acomoda com as cartas que dispõe na mesa: Cada minuto de filme é uma
oportunidade que ele usa para surpreender o expectador, seja com a
expressividade gestual ou o talento físico de Charlize Theron (que mulher
extraordinária!), seja com as características fascinantes da rebuscada
narrativa de espionagem que guarda, até os segundos finais, uma série de guinadas
inesperadas debaixo da manga, neste filme admirável, envolvente e eletrizante.
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