quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Atômica

Como todos os grandes diretores que já demonstraram propriedade ao moldar o gênero de ação (Irmãs Wachowsky, Paul Greengrass, Steve Sodenbergh), David Leitch compreende o fetiche inerente a essa categoria de filme. Sua narrativa efusiva e diversificada cerca de atributos e elementos visuais o corpo de Charlize Theron. E que corpo! –ela materializa a mais perfeita e genuína versão feminina de James Bond desde que esse objetivo ensaiou-se no cinema comercial.
Numa compreensão intrínseca que já havia demonstrado da ação em “John Wick”, Leitch enxerga em Charlize Theron o objeto, o modelo para experimentações, e ao longo das quase duas horas de “Atômica” ela passará com honras por todas as variações mais brutais, técnicas e dramáticas da ação.
Como se tal zelo não bastasse, Leitch se beneficia do fato de que a trama desta adaptação de histórias em quadrinhos se passa nos anos 1980 –mais precisamente, 1980, às vésperas da queda do Muro de Berlim: O repertório do qual ele dispõe na trilha sonora é tão sensacional quanto poderia ser.
Charlize Theron é Lorraine Broughton, uma agente do MI6 –o Serviço de Inteligência Inglês –despachada para Berlim em uma missão escorregadia: Oficialmente, trazer o corpo de um agente morto por lá; extra-oficialmente, encontrar um microfilme tirado dele e que contém uma lista de agentes infiltrados. Mais que isso: O nome mais procurado dessa lista, seja por ingleses ou por soviéticos, é o do fantasmagórico agente Satchell, um agente duplo –ou talvez até triplo! –à serviço da Coroa. Lorraine conta com a ajuda pouco confiável de um agente britânico há anos baseado em Berlim chamado David Percival (James McAvoy, uma escolha interessante para um personagem irrequieto e ambíguo), além da aliança (ou oposição...) da sedutora agente francesa Delphine Lasalle (Sofia Boutella, uma delícia!), e dos recursos variados de um astuto contato no lado oriental de Berlim (Bill Skarsgaard, o Pennywise de “It-A Coisa”).
O diretor David Leitch em momento algum se acomoda com as cartas que dispõe na mesa: Cada minuto de filme é uma oportunidade que ele usa para surpreender o expectador, seja com a expressividade gestual ou o talento físico de Charlize Theron (que mulher extraordinária!), seja com as características fascinantes da rebuscada narrativa de espionagem que guarda, até os segundos finais, uma série de guinadas inesperadas debaixo da manga, neste filme admirável, envolvente e eletrizante.

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