quinta-feira, 1 de março de 2018

Encontro Marcado

O próprio diretor e roteirista Martin Brest pareceu crer na súbita pecha de grande realizador que alguns à ele atrelaram quando do lançamento, nos anos 1990, de sua refilmagem para o italiano “Perfume de Mulher”, que deu um Oscar à Al Pacino.
Deve ter sido esse fator o grande responsável por sua intenção mais ambiciosa de refilmar “Death Takes A Holiday”, de 1934 –no Brasil intitulado “Uma Sombra Que Passa” –contando com Brad Pitt (então, na crista da onda como um dos mais fulgurantes galãs surgidos nos anos 1990) e Anthony Hopkins no elenco; ambos reunidos num mesmo filme após o épico romântico “Lendas da Paixão”.
Na realidade, Brest era de fato um roteirista regular dotado do ocasional hábito de salientar características graciosas em algumas situações, enfatizar a comédia, sobretudo, quando tinha bons atores à frente das câmeras (são realizados por ele, por exemplo, o simpático “Fuga À Meia-Noite”, com Robert De Niro e o famoso “Um Tira da Pesada”, com Eddie Murphy) e como diretor... bem, aí sobravam ainda menos adjetivos para elogiá-lo, embora ele não costumasse cometer maiores calamidades.
“Death Takes A Holiday” era uma espécie de drama romântico, e embora sua trama até tivesse ampla margem para que o absurdo fosse explorado com senso de humor, Brest optou por uma pretensa seriedade –isso tudo numa trama que, ainda por cima, foi esticada até as três horas de duração!
Houve quem achasse um bom filme, reconhecendo elementos românticos empregados com sensibilidade, mas a verdade é que assistir a “Encontro Marcado” significa tão somente contemplar a mal disfarçada pretensão de Martin Brest. Ela surge em comentários eloqüentes e rasos dos personagens –em especial, de Jake Weber, vivendo um vilãozinho de meia tigela –na condução meticulosamente desnecessária de muitas cenas e no empenho válido, porém vão de seu elenco.
É como um pastel de vento: Parece haver algo dentro dele, mas não há.
A trama inicia-se com o magnata William Parrish (Hopkins, num personagem tão adequado a ele que não oferece qualquer desafio ou chance de ousar) às voltas com seus sócios empresariais e com os preparativos de uma festividade familiar: O seu pomposo aniversário de sessenta e cinco anos.
Entretanto, algo completamente inesperado acontece para William: A morte em pessoa lhe aparece, ocasionada por um infarto! A surpresa ocorre devido ao fato da própria morte, entediada com sua rotina eterna de levar as almas dos vivos, resolver dar um tempo passando um fim de semana com William em sua luxuosa mansão (!).
Um enredo, como se pode ver, farto em possibilidades cômicas que poderiam ser exploradas nas mãos das pessoas certas –e esse potencial foi até aproveitado em “Death Takes A Holiday”, não obstante o tom lúgubre do protagonista daquele filme, Fredric March –contudo, não é o que ocorre no filme de Brest.
A morte assume o corpo de um jovem executivo (Brad Pitt), pouco antes de ele ter um rápido, encantador e esperançoso contato com Susan (a bela Claire Fornali), a filha de William (Aliás, a cena em que o personagem de Pitt morre atropelado é inesperada e impressionante, e provavelmente a melhor de todo o filme!).
O que se segue então é o personagem soturno e sombrio de Pitt –que oferece um registro todo diferenciado quando incorpora a Morte, do luminoso jovem executivo que vislumbramos só no início e no final –às voltas com as minúcias humanas, com as regalias da mansão onde passará seu tempo, e pouco a pouco, se encantando com a doce e perplexa Susan –aturdida com o comportamento tão estranho que nele passa a perceber. A sub-trama em que uma pequena conspiração é montada contra William busca acrescentar tensão ao filme, porém nada mais faz senão estender sua duração. E o filme de Brest acaba sem ter humor onde poderia haver graça, sem empatia ponde poderia haver algum sentimento, e sem uma boa condução onde poderia haver ritmo.
Numa comparação, ele fez exatamente o quê havia feito em “Perfume de Mulher”: Pegou um filme excelente e o refez modificado por convenções artísticas que muitas vezes o banalizam, mas cujas presenças do elenco (Pacino, naquele filme; Hopkins e, especialmente, Brad Pitt, neste daqui) encontram uma forma de valorizá-lo.

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