Dentre os renomados cineastas chineses,
aplaudidos por todo o mundo por suas obras dramáticas, Chen Kaige, o célebre
realizador de "Adeus Minha Concubina", sempre foi o mais desigual.
Nada mais natural que –a exemplo de Ang Lee (“O Tigre e O Dragão”) e Zhang Ymou
(“O Clã das Adagas Voadoras”) –sua incursão nos filmes de artes marciais fosse,
também ela, de um resultado todo singular e incomum.
Num mundo pleno de fantasia, um reino
fragmentado entre o Mar do Céu e a Terra da Neve enfrenta uma guerra sangrenta
na disputa mesquinha por sua coroa. Procurando por comida no campo de batalha
(todo ele registrado numa opção visual rica em artesanato e artificialismo da
parte de seu designer de produção), uma menina pobre, Qingcheng, foge com um
bolinho nas mãos que, ao cair nas águas de um rio, revela a ela a presença da
deusa Manshen que a oferece uma alternativa à vida miserável: Crescer para
tornar-se dona de uma beleza hipnótica e por meio dela desfrutar de riqueza e
bem estar, exceto pelo fato de que pagará um alto preço por isso, pois todo o
homem que ela amar morrerá.
Vinte anos depois, as guerras ainda persistem,
e o humilde escravo Kunlun (Jang Dong-Gun) –tão humilde que sequer tinha o
hábito de andar em pé, só ajoelhado ou rastejando –acaba sem querer promovendo
uma inversão no conflito, favorecendo o Exército da Armadura Vermelha, liderado
pelo Grande General Guangming (Hiroyuki Sanada, que não é chinês, mas japonês),
perante o Exército Negro.
Nomeado escravo de Guangming, Kunlun o
acompanha numa missão de suma importância: Ir à Cidade Imperial, onde o rei se
vê encurralado por seu maior inimigo que lhe deseja tomar a esposa, que não é
nenhuma outra senão Qingcheng, agora crescida (e interpretada pela belíssima
Cecília Cheung).
No percurso, Guangming é ferido e, sem
condições de prosseguir, ordena a Kunlun que vista sua armadura e, passando-se
por ele, que conclua sua missão; eis que então o pobre escravo será confundido
com o grande herói de guerra pelas circunstâncias. Tomado como Guangming,
Kunlun salva a princesa Qingcheng e mata o rei (por pura imprudência e ignorância)
e, quando a culpa ameaça recair sobre Guangming, a deusa Manshen reaparece que
faz com ele uma aposta: Obter a soberania e o amor de Qingcheng.
Intrincado, não? Fica ainda mais: Acontece que
Qingcheng se afeiçoou ao homem de armadura que a salvou (que ela presumiu ser
Guangming, mas que era Kunlun), e ao ser resgata de uma prisão por Kunlun onde
seu novo pretendente Wuhuan a colocou, deixa o escravo para trás –preso pelos
inimigos –para fugir junto com Guangming.
No entanto, Qingcheng por algum tempo tenta
abandonar Guanming (ela sabe que se continuar com ele a maldição se fará
presente e ele morrerá), enquanto Kunlun é salvo por um estranho e sombrio
assassino de aluguel que, compadecido dele, lhe revela seu passado nobre na
lendária Terra da Neve –de onde provêem suas habilidades prodigiosas.
A família que Kunlun antes teve (ele descobre
durante uma viagem no tempo!) foi chacinada por Wuhuan –deveras, o grande vilão
do filme –enquanto o amor entre Guangming e Qingcheng evolui a medida que o
próprio Guangming compreende que Qingcheng se apaixonou por Kunlun quando este
vestiu sua armadura e não por ele.
Será o próprio Wuhuan, após muitas vicissitudes
dessa espécie de triangulo amoroso, quem irá conduzir essa situação a um
desfecho quando capturar Guangming, para ser julgado pelo assassinato do rei, e
depois Qingcheng obrigando Kunlun a intervir em definitivo.
Um bom exemplo da
criatividade visual do diretor Chen Kaige, esta bela superprodução chinesa,
pródiga em cenas de ação "wuxia", como é designado no oriente o
gênero das artes marciais que desafiam a gravidade com vôos impossíveis, trás
mais do que apenas vôos impossíveis: Ela habita todo um universo
cinematográfico de improbabilidades físicas, onde os homens demonstram rapidez
e leveza que os tornam seres sobrenaturais –e tais elementos coexistem na trama
junto da própria natureza. Tudo isso e mais o esforço de Chen Kaige em
emoldurar esta fantasia romântica com seu apurado e contundente senso de
fatalismo passional presente em todos os seus trabalhos faz de “A Promessa” uma
experiência sensorial plena.
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