O cinema de Eric Rohmer sempre foi atento às
sutilezas num nível até maior do que seus conterrâneos da novelle vague.
Se Godard apreciava política e Truffaut
valorizava o romantismo, para Rhomer, a matéria-prima de seus filmes provinha de
impressões nem sempre fáceis de serem capturadas, em geral, abstrações
relativas ao envolvimento humano.
Com isso, o cinema de Rohmer tornou-se um misto
de flerte, excitação e romance. Os filmes que ele concebeu falam sobre
elementos tão fugazes que, para muitos, é normal o questionamento do por que
dedicar todo um filme a algo tão efêmero.
Em “A Colecionadora”, esse dado fugaz e efêmero
não chega sequer a ser amor –embora, alguns personagens, em sua inércia afetiva
o confundam com isso –e nem tampouco o êxtase da conquista; embora, tais
elementos estejam em jogo também.
A Riviera Francesa é palco das
descompromissadas férias de Adrien (Patrick Bauchau) e, no registro tão
cinematográfico quanto idealizado que Rhomer faz do ambiente, este é um
universo de descontraído romantismo envolto numa desmaiada luz veronil (e não despido de uma certa torpeza machista).
Adrien acaba por conhecer Haydée (Haydée
Politoff), uma jovem bela, interessante e, como logo fica claro, sexualmente
ativa. A presença de Haydée acarreta à Adrien tudo que suas sossegadas férias até
então não tinham: Perplexidade, aflição e ansiedade.
Porque Haydée é desejável, e na consciência
disso, ela é uma ‘colecionadora’: Seu prazer é assistir os homens
gradativamente cair aos seus pés, passando pelos mesmos estágios de sempre que
são as tentativas existenciais de impressioná-la e, mais tarde, a declaração
estóica e envergonhada de seus desejos por ela.
Com uma presunção típica dos arrogantes, Haydée
sabe que Adrien será mais um dos admiradores que ela incluirá na sua coleção. Sem
vontade de ver seu orgulho ferido, ele quer rejeitar essa possibilidade, mas
sabe que sua atração por Haydée é real, e ao longo do filme ele se percebe
pouco capaz de resistir a ela.
Como em todos os seus trabalhos, Rohmer monta
sua narrativa a partir de uma simplicidade espartana, embora sempre aborde
assim a complexidade dos sentimentos, sobretudo, os afetivos.
A razão de ser e o propósito de “A
Colecionadora”, para seu realizador, está na breve e sutil seqüência final que,
se observada com displicência, parece encerrar o filme com um momento banal,
mas representa o instante fugaz que Rohmer tanto aguardou para vislumbrar: É
seu protagonista e herói, dando enfim o troco à garota com quem dançou aquela
ciranda irritadiça de sedução.
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