sexta-feira, 13 de julho de 2018

A Volta Ao Mundo Em 80 Dias


Primeira produção cinematográfica do empresário Michael Todd (conhecido por ter se casado, justamente naquele período, com a estrela Elizabeth Taylor), este filme é, até hoje, uma das mais famosas e válidas adaptações da obra de Jules Verne, traduzida em um sem-fim de animações, minisséries e outros filmes (há inclusive um em que Jackie Chan interpreta Passepartout!).
Todd, de fato, não mediu esforços para fazer desta uma obra colossal e respeitável (ele cunhou, para este filme, por sinal, o conceito de ‘cameo’, participações rápidas vividas por grandes estrelas), investindo inclusive em arrojadas tomadas de câmeras que, apesar da idade do filme, ombreiam as técnicas de filmagens atuais. O resultado é que, à exemplo de David O’ Selznick e seu monumental “E O Vento Levou” este é estritamente um filme de produtor, e como tal ele levou o Oscar de Melhor Filme.
“A Volta Ao Mundo Em 80 Dias” inicia-se com um preâmbulo longo e pretensioso (e, em última instância, desnecessário): Um apresentador divaga sobre a importância da obra de Jules Verne chegando a introduzir seqüências do clássico “Viagem À Lua”, de George Mélies. Após essas e outras cenas intercaladas por imagens de documentários, o filme fictício começa de fato e somos apresentados aos dois grandes personagens da trama: O milionário Phileas Fogg (David Niven, divertindo-se visivelmente com o papel) e seu mordomo Passepartout (personagem francês, porém, vivido pelo mexicano Cantinflas, um dos grandes astros da época).
É uma aposta surgida de uma usual conversa entre os membros de seu clube que leva Phileas Fogg a colocar em jogo sua fortuna a fim de provar uma certeza: De que, em pleno 1874, ele é perfeitamente capaz de executar uma volta em torno do globo terrestre em não mais que 80 dias valendo-se dos meios de transporte projetados pelo homem.
Não obstante as complicações naturais, o milionário e seu mordomo arrumam também um detetive, o Inspetor Fix (Robert Newton), que segue em seu encalço, crente de que Fogg é autor de um roubo recente em Londres, e sua empreitada é uma justificativa para fugir das autoridades.
E assim se principia a história –que, em seus primeiros quarenta minutos, o longo filme concebido por Todd (e dirigido de maneira empenhada e servil por Michael Anderson) consegue enrolar ainda mais que o livro detendo-se em detalhes que não se revelam tão importantes assim. Quando a viagem por assim dizer começa mesmo, o filme engata um ritmo agradável, valendo-se de eficazes expedientes do gênero de aventura, ainda que dessa forma acabe negligenciando Phileas Fogg como protagonista (a despeito da imensa generosidade que Niven demonstra) e enfatizando muito mais a presença de Passepartout em meio às cenas mais ágeis –e Cantinflas exibe realmente uma exuberância e um timing cômico singulares: Talvez o  melhor exemplo seja a divertida cena do resgate da princesa indiana em sacrifício (interpretada por uma jovem e carismática Shirley McLane).
A realização de Todd –tão mais admirável e impressionante por ser essa sua primeira incursão numa obra hollywoodiana –só não atinge patamares mais elevados de perfeição porque se mostra excessivamente confiante na própria narrativa: Não somente o filme, com suas mais de três horas de duração, se mostra longo demais, como em vários momentos sua condução se deixa seduzir por uma contemplação em demasia de lugares paisagísticos que a esmerada produção de fato visitou para sua realização.
Mas são elementos irrisórios demais para não justificar o reconhecimento que ele recebeu.

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