Primeira produção cinematográfica do empresário
Michael Todd (conhecido por ter se casado, justamente naquele período, com a
estrela Elizabeth Taylor), este filme é, até hoje, uma das mais famosas e
válidas adaptações da obra de Jules Verne, traduzida em um sem-fim de
animações, minisséries e outros filmes (há inclusive um em que Jackie Chan
interpreta Passepartout!).
Todd, de fato, não mediu esforços para fazer
desta uma obra colossal e respeitável (ele cunhou, para este filme, por sinal,
o conceito de ‘cameo’, participações rápidas vividas por grandes estrelas),
investindo inclusive em arrojadas tomadas de câmeras que, apesar da idade do
filme, ombreiam as técnicas de filmagens atuais. O resultado é que, à exemplo
de David O’ Selznick e seu monumental “E O Vento Levou” este é estritamente um
filme de produtor, e como tal ele levou o Oscar de Melhor Filme.
“A Volta Ao Mundo Em 80 Dias” inicia-se com um
preâmbulo longo e pretensioso (e, em última instância, desnecessário): Um apresentador
divaga sobre a importância da obra de Jules Verne chegando a introduzir
seqüências do clássico “Viagem À Lua”, de George Mélies. Após essas e outras
cenas intercaladas por imagens de documentários, o filme fictício começa de
fato e somos apresentados aos dois grandes personagens da trama: O milionário
Phileas Fogg (David Niven, divertindo-se visivelmente com o papel) e seu
mordomo Passepartout (personagem francês, porém, vivido pelo mexicano
Cantinflas, um dos grandes astros da época).
É uma aposta surgida de uma usual conversa
entre os membros de seu clube que leva Phileas Fogg a colocar em jogo sua
fortuna a fim de provar uma certeza: De que, em pleno 1874, ele é perfeitamente capaz
de executar uma volta em torno do globo terrestre em não mais que 80 dias
valendo-se dos meios de transporte projetados pelo homem.
Não obstante as complicações naturais, o
milionário e seu mordomo arrumam também um detetive, o Inspetor Fix (Robert
Newton), que segue em seu encalço, crente de que Fogg é autor de um roubo
recente em Londres, e sua empreitada é uma justificativa para fugir das
autoridades.
E assim se principia a história –que, em seus
primeiros quarenta minutos, o longo filme concebido por Todd (e dirigido de
maneira empenhada e servil por Michael Anderson) consegue enrolar ainda mais
que o livro detendo-se em detalhes que não se revelam tão importantes assim.
Quando a viagem por assim dizer começa mesmo, o filme engata um ritmo
agradável, valendo-se de eficazes expedientes do gênero de aventura, ainda que
dessa forma acabe negligenciando Phileas Fogg como protagonista (a despeito da
imensa generosidade que Niven demonstra) e enfatizando muito mais a presença de
Passepartout em meio às cenas mais ágeis –e Cantinflas exibe realmente uma
exuberância e um timing cômico singulares: Talvez o melhor exemplo seja a divertida cena do
resgate da princesa indiana em sacrifício (interpretada por uma jovem e
carismática Shirley McLane).
A realização de Todd –tão mais admirável e
impressionante por ser essa sua primeira incursão numa obra hollywoodiana –só
não atinge patamares mais elevados de perfeição porque se mostra excessivamente
confiante na própria narrativa: Não somente o filme, com suas mais de três
horas de duração, se mostra longo demais, como em vários momentos sua condução
se deixa seduzir por uma contemplação em demasia de lugares paisagísticos que a
esmerada produção de fato visitou para sua realização.
Mas são elementos irrisórios demais para não
justificar o reconhecimento que ele recebeu.
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