quinta-feira, 12 de julho de 2018

Cinquenta Tons de Liberdade


Há um clima de publicidade impregnado já nas primeiras tomadas do filme onde acompanhamos –numa montagem tão breve que chega a ser redundante –o casamento entre os protagonistas Anastassia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) já devidamente esboçado no final pouco contundente do filme anterior, “Cinqüenta Tons Mais Escuros”.
Um filme (mesmo que uma ‘terceira parte’) que começa onde quase todos os outros têm por hábito terminar, normalmente tem duas possibilidades: Ou é uma obra audaciosa disposta a ir na contramão do óbvio; ou acaba abraçando o tedioso justamente por não ter nada a oferecer.
Leva pouquíssimo tempo para concluir que trata-se da segunda opção este pouco inspirado encerramento da, digamos, saga romântica e sexual (e supostamente sadomasoquista!) iniciada em “Cinqüenta Tonsde Cinza”.
A trama que se segue às ostensivas cenas de casamento (que refletem a ostentação de tudo que veremos depois, uma espécie de reflexo condicionado que o filme confunde com estilo), acompanha com igual brevidade e redundância a lua-de-mel de Ana e Christian para então enveredar pelo que o diretor James Foley (o mesmo do filme anterior) julga ser o elemento mais interessante do enredo: A perseguição de pretextos ainda nebulosos de Jack Hyde (Eric Johnson, um vilãozinho de meia tigela) contra o casal de apaixonados.
Foley, que em outras ocasiões revelou-se um diretor minimamente austero, alterna o suspense que verte desse núcleo com os desdobramentos –a maioria de ordem tediosamente sexual –da vida doméstica de Ana e Christian.
Um filme normal iria valer-se de tal narrativa para contemplar as idiossincrasias dos personagens e evidenciar o que eles têm de único e notável, mas “Cinqüenta Tons de Liberdade”, infelizmente, não é um filme normal. É assolado por todas as carências artísticas e narrativas dos episódios anteriores. É prejudicado por uma equivocada reunião de personagens completamente apáticos em seu egocentrismo –e, nesse sentido, Christian Grey passa a frente dos outros com seu chilique injustificável quando descobre que a esposa está grávida e que “terá de dividi-la com uma criança”!
E é, acima de tudo, um filme que não sabe que rumo seguir para se fazer minimamente interessante ao expectador: Quando tenta se fazer erótico, ele patina nas cenas de sexo que frustram por sua intenção excessiva de ser elegante e sua atitude evasiva de ser explícito (e a nudez de Dakota Johnson não é vibrante ou ardente o suficiente para empolgar). Quando quer virar suspense, sua trama padece pela falta de profundidade e pela tensão absolutamente inexistente que a ausência de antagonistas realmente bons acarreta. E, por fim, quando quer ser romance, o filme esbarra nos argumentos despropositados que lhe restaram, nas seqüências intermináveis dos protagonistas vivendo numa mansão luxuosa, e aproveitando do bom e do melhor –uma ilustração em tom de videoclip de uma mera fantasia algo romântica onde uma mulher comum se vê arrebatada por um homem incomum (leia-se um milionário podre de rico!) para uma vida de riqueza e regalia. A forma com que os realizadores encontraram para ancorar essa fantasia no mundo real? Fazer do personagem um pretenso e idealizado adepto do sadomasoquismo –algo que o próprio filme (e os dois antes dele) sequer consegue abordar com muita precisão.
Como filme, como cinema, esse gesto é repreensível e lamentável, visto que nada de bom se produziu dali, mas a “Trilogia Cinqüenta Tons”, agora completa tanto no cinema quanto na literatura, da forma como está, parece ter agradado amplamente seu público que dele fez um grande sucesso, abraçando por inteiro esse fetiche materialista e questionável disfarçado de história de amor.

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