Tendo já realizado em 1923 uma versão muda e em
preto & branco de “Os Dez Mandamentos”, Cecil B. DeMille enveredou, em 1956,
por uma nova versão diametralmente radical em termos de estilo: Sai a
austeridade do preto & branco, entram as composições espalhafatosas do
Technicolor; sai a compenetração do cinema mudo, entram todos os predicados
exorbitantes acarretados pelo som (trilha sonora épica e ribombante, trabalho
de som ensurdecedor e grandiloquente, diálogos folhetinescos contando o que
antes era mostrado através das cenas, e uma narração –a cargo do próprio
DeMille –algo solene e edificante extraída seletivamente de passagens
bíblicas).
Preenchendo com tom dramático uma série de
lacunas em relação a trajetória de seu protagonista (que Charlton Heston interpreta
com fulgor mítico) discriminada na Bíblia, o filme começa com o assassinato de
várias crianças hebreias na tentativa do faraó em matar o assim anunciado
libertador daquele povo escravo, predestinado a nascer entre eles. Uma dessas
crianças é enviada para longe dos assassinos num cesto pelo rio e, numa ironia
suprema, encontrado e adotado pela esposa do faraó, que lhe dá o nome de Moisés.
Os anos se passam com Moisés já adulto tecem
uma série de pequenas rivalidades e disputas com seu irmão Ramsés (Yul
Brinner).
Na Hollywood dos anos 1950, predominava um
sentimento de antagonismo em relação à Guerra-Fria o quê impregnou o filme de
DeMille de um viés ideológico –se em outras versões (até mesmo na de 1923), a
oposição de Moisés e Ramsés é mostrada como uma crescente batalha entre dois
irmãos que apesar de se amarem se viram tornados inimigos pelo destino, no
famoso clássico de 1956, qualquer sutileza ou ambiguidade é deixada de lado em
prol de uma clareza que opõe o representante de Deus –Moisés –e o representante
do autoritarismo –Ramsés; é óbvio, portanto, que a verdadeira origem de Moisés
aparecerá para chama-lo ao seu propósito; inclusive com as oposições divinas e
assombrosas típicas do Deus do Velho Testamento.
Isso levará Moisés a unir-se ao seu povo hebreu
e, já abraçando sua condição de mensageiro de Deus, exigirá sua libertação –deflagrando
as Sete Pragas do Egito, em cenas bastante notáveis –para então guia-los na
famosa Travessia do Mar Vermelho –uma das cenas mais icônicas do cinema graças
ao emprego brilhante dos efeitos visuais –e, por fim, ao Monte Sinai, onde Moisés
recebe os Dez Mandamentos da Lei de Deus.
Ao longo dessa epopeia desmesurada de quase
quatro horas de duração, tão vulgar quanto esplêndida, o diretor Cecil B.
DeMille não economiza em espalhafato e extravagância para arrebatar o
expectador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário