terça-feira, 13 de novembro de 2018

Os Dez Mandamentos


Tendo já realizado em 1923 uma versão muda e em preto & branco de “Os Dez Mandamentos”, Cecil B. DeMille enveredou, em 1956, por uma nova versão diametralmente radical em termos de estilo: Sai a austeridade do preto & branco, entram as composições espalhafatosas do Technicolor; sai a compenetração do cinema mudo, entram todos os predicados exorbitantes acarretados pelo som (trilha sonora épica e ribombante, trabalho de som ensurdecedor e grandiloquente, diálogos folhetinescos contando o que antes era mostrado através das cenas, e uma narração –a cargo do próprio DeMille –algo solene e edificante extraída seletivamente de passagens bíblicas).
Preenchendo com tom dramático uma série de lacunas em relação a trajetória de seu protagonista (que Charlton Heston interpreta com fulgor mítico) discriminada na Bíblia, o filme começa com o assassinato de várias crianças hebreias na tentativa do faraó em matar o assim anunciado libertador daquele povo escravo, predestinado a nascer entre eles. Uma dessas crianças é enviada para longe dos assassinos num cesto pelo rio e, numa ironia suprema, encontrado e adotado pela esposa do faraó, que lhe dá o nome de Moisés.
Os anos se passam com Moisés já adulto tecem uma série de pequenas rivalidades e disputas com seu irmão Ramsés (Yul Brinner).
Na Hollywood dos anos 1950, predominava um sentimento de antagonismo em relação à Guerra-Fria o quê impregnou o filme de DeMille de um viés ideológico –se em outras versões (até mesmo na de 1923), a oposição de Moisés e Ramsés é mostrada como uma crescente batalha entre dois irmãos que apesar de se amarem se viram tornados inimigos pelo destino, no famoso clássico de 1956, qualquer sutileza ou ambiguidade é deixada de lado em prol de uma clareza que opõe o representante de Deus –Moisés –e o representante do autoritarismo –Ramsés; é óbvio, portanto, que a verdadeira origem de Moisés aparecerá para chama-lo ao seu propósito; inclusive com as oposições divinas e assombrosas típicas do Deus do Velho Testamento.
Isso levará Moisés a unir-se ao seu povo hebreu e, já abraçando sua condição de mensageiro de Deus, exigirá sua libertação –deflagrando as Sete Pragas do Egito, em cenas bastante notáveis –para então guia-los na famosa Travessia do Mar Vermelho –uma das cenas mais icônicas do cinema graças ao emprego brilhante dos efeitos visuais –e, por fim, ao Monte Sinai, onde Moisés recebe os Dez Mandamentos da Lei de Deus.
Ao longo dessa epopeia desmesurada de quase quatro horas de duração, tão vulgar quanto esplêndida, o diretor Cecil B. DeMille não economiza em espalhafato e extravagância para arrebatar o expectador.

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