O filme do diretor Marc Foster lembra
sistematicamente o dinamarquês “Blind” (ao mostrar, em sua primeira parte, uma
bela mulher a enfrentar os desafios domésticos e existenciais da cegueira), o
thriller “Blink-Num Piscar de Olhos” (ao devolver, a essa mesma protagonista, a
capacidade de visão e, a partir daí, engatar uma marcha de suspense), e “EnsaioSobre A Cegueira”, de Fernando Meirelles (nos recursos visuais que tenta
empregar para simular a impressão subjetiva da personagem, e nas intenções
reflexivas de sua condição que, aqui, nunca se concretizam satisfatoriamente).
Gina (a bela e minimalista Blake Lively) sofreu
um acidente quando criança que a fez perder a visão. Aos vinte e poucos anos,
ela jamais viu o próprio reflexo num espelho, ou mesmo o rosto do marido James
(Jason Clarke) com quem vive na Tailândia –registrada, neste filme, como um
lugar onde se esbarra com frequência em americanos (!).
Quando o Dr. Hugues (Danny Huston) aparece com
a possibilidade de um transplante de córneas –e, por consequência, com a possibilidade
de Gina voltar a enxergar –algo, inicialmente indefinível começa a se transformar
na dinâmica do casamento entre ela e James.
Se antes ele era inteiramente vulnerável e
dependente, a partir do momento em que recupera a visão, Gina passa a
demonstrar auto-confiança, independência e opinião próprias –o que, sem ela
notar, começam a minar a masculinidade do próprio marido.
É James, querendo a volta de seu casamento como
era antes, quem introduz os primeiros elementos de suspense na narrativa.
Estaria ele conspirando –na provável
adulteração dos remédios de Gina –para que sua cegueira retornasse?
Apesar das possibilidades promissoras na
premissa, o diretor Marc Foster contorna o teor instigante obtido pelos
realizadores dos filmes citados acima optando por algo que quase descamba para
um melodrama, arrastando sua condução em cenas que desperdiçam o potencial
sufocante da narrativa para se concentrar em lamentações domésticas e questões
melancólicas da vida a dois culminando em obviedades como o adultério ou a
represália nos animais de estimação.
Uma pena: A julgar pelo afinco demonstrado por
Blake Lively dava para obter algo muito melhor que isso.
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