Feito de inúmeras sutilezas, "Blind",
em seu princípio, nos dá a impressão de que dificilmente iremos nos encontrar
naquela confusão de pistas dúbias e cenas aleatórias. Não que seja complexo.
Pelo contrário: É bastante inteligível a
premissa da mulher (Ellen Dorrit Pettersen, que nos brinda com diversas cenas
de seu lindo corpo nu) que fica cega devido à uma doença, e que se enclausura
no próprio apartamento, para a perplexidade do marido.
O problema são as supostas tramas paralelas (o
voyeur tímido e anti-social cuja carência não é mais capaz de suportar; e sua
vizinha, uma professora, também ela agravada por uma súbita cegueira) que vão
se agregando à narrativa, e que trazem cenas estranhamente ambíguas, confusas,
mas que não deixam dúvida sobre a perícia da direção do dinamarquês Eskil Vogt:
Em uma conversa banal de cafeteria, dois homens tentam travar um diálogo
enquanto a cena parece indecisa se o cenário é realmente uma cafeteria ou o
interior de um ônibus (!), e a despeito dessa confusão estranha e proposital,
as tomadas de close nos quais o cenário de fundo transcorre atrás dos atores
são sensacionais.
Em outra, durante as lembranças da professora a
respeito de seu filho, temos a impressão que ela mudou de ideia, e por isso ela
é mãe de uma menina, e não mais um menino.
É notável ainda, o modo
como o roteiro encontra um desfecho, harmonizando esses elementos que antes
pareciam impossíveis de se conciliar em termos narrativos, resultando no fim,
em uma obra de beleza insuspeita e de intrigante caráter temático.
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