sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Pantaleão e As Visitadoras


O jovem capitão Pantaleão Pantoja (o adequado Salvador Del Solar) é uma espécie de autodidata. Assimila e aprende as incumbências a ele designadas com fulgor de especialista e com isso cumpre seus trabalhos com eficácia impecável –diante dessa sua precisão impessoal há de se concluir que o militarismo é seu ambiente mais propício.
 A comunidade peruana de Ikitos, situada nos confins das selvas amazônicas, possui diversos postos longínquos onde cadetes servem às vezes por seis meses no isolamento das matas. E tal circunstância tem se revelado problemática para o exército mantê-los na linha: Sem contato com outras pessoas (leia-se, mulheres) os soldados ficam numa inquietude que beira a insubordinação. E o exército busca, na surdina, encontrar um meio de solucionar o problema.
É aí que entra o capitão Pantoja.
A missão inusitada, aliada ao seu perfeccionismo crônica leva à criação do ‘Centro Logístico de Visitadoras’ que nada mais é do que um prostíbulo móvel organizado para levar a descontração sexual aos soldados que não podem sair de seus postos para procurar por ela –entretanto, na qualidade de serviço requisitado pelo exército, está sumariamente proibido referir-se àquelas mulheres como prostitutas (o que elas são de fato), daí o termo ‘visitadoras’.
Pantoja negocia diretamente com Chuchupe (Pilar Bardem), a já desiludida cafetina de um dos prostíbulos locais e, munidos de um barco, conduzem as beldades pelos rios afora, visitando soldados numa organização e numa disciplina que refletem a evidente formação militar de seu empreendedor –as cenas em que Pantoja narra os eventos, a seleção das prostitutas e todos os percalços para levar as ‘visitadoras’, com uma verve militarmente empostada é um dos inúmeros divertimentos deste filme.
Dirigida por Francisco Lombardi e baseada na obra de Mario Vargas Llosa, a trama não se isenta, em certo momento, de agregar também algum drama e algum conflito: Ainda que casado e moralmente compelido a fazer a coisa certa, Pantoja não resiste à tentação pela mais irresistível das ‘visitadoras’, a avassaladora Colombiana (Angie Cepeda, de “O Amor Nos Tempos do Cólera”, de fato uma visão estonteante), e eis que um dilema se estabelece.
Como amar uma mulher à qual se está ligado por um arranjo beirando o sórdido como o da prostituição? –o que a leva a deitar-se com até vinte soldados consecutivos em cada visita (!). E o que fazer com relação ao seu casamento –cuja esposa acredita que seu trabalho confidencial envolve a Inteligência?
Ao seu modo, este ótimo filme peruano, exemplo notável de um cinema realizado tão perto de nós e normalmente tão distante de nosso circuito comercial, encontrará uma resposta (ainda que tortuosa) para cada uma dessas perguntas.
Dá para se divertir, dá para se emocionar, se excitar e até refletir –um feito e tanto para uma obra descontraída e descompromissada que almeja somente uma maliciosa (e graciosa) alfinetada nos rigores do militarismo.

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