O jovem capitão Pantaleão Pantoja (o adequado
Salvador Del Solar) é uma espécie de autodidata. Assimila e aprende as
incumbências a ele designadas com fulgor de especialista e com isso cumpre seus
trabalhos com eficácia impecável –diante dessa sua precisão impessoal há de se
concluir que o militarismo é seu ambiente mais propício.
A
comunidade peruana de Ikitos, situada nos confins das selvas amazônicas, possui
diversos postos longínquos onde cadetes servem às vezes por seis meses no
isolamento das matas. E tal circunstância tem se revelado problemática para o
exército mantê-los na linha: Sem contato com outras pessoas (leia-se, mulheres)
os soldados ficam numa inquietude que beira a insubordinação. E o exército
busca, na surdina, encontrar um meio de solucionar o problema.
É aí que entra o capitão Pantoja.
A missão inusitada, aliada ao seu
perfeccionismo crônica leva à criação do ‘Centro Logístico de Visitadoras’ que
nada mais é do que um prostíbulo móvel organizado para levar a descontração
sexual aos soldados que não podem sair de seus postos para procurar por ela
–entretanto, na qualidade de serviço requisitado pelo exército, está
sumariamente proibido referir-se àquelas mulheres como prostitutas (o que elas
são de fato), daí o termo ‘visitadoras’.
Pantoja negocia diretamente com Chuchupe (Pilar
Bardem), a já desiludida cafetina de um dos prostíbulos locais e, munidos de um
barco, conduzem as beldades pelos rios afora, visitando soldados numa
organização e numa disciplina que refletem a evidente formação militar de seu
empreendedor –as cenas em que Pantoja narra os eventos, a seleção das
prostitutas e todos os percalços para levar as ‘visitadoras’, com uma verve
militarmente empostada é um dos inúmeros divertimentos deste filme.
Dirigida por Francisco Lombardi e baseada na
obra de Mario Vargas Llosa, a trama não se isenta, em certo momento, de agregar
também algum drama e algum conflito: Ainda que casado e moralmente compelido a
fazer a coisa certa, Pantoja não resiste à tentação pela mais irresistível das
‘visitadoras’, a avassaladora Colombiana (Angie Cepeda, de “O Amor Nos Tempos do Cólera”, de fato uma visão estonteante), e eis que um dilema se estabelece.
Como amar uma mulher à qual se está ligado por
um arranjo beirando o sórdido como o da prostituição? –o que a leva a deitar-se
com até vinte soldados consecutivos em cada visita (!). E o que fazer com
relação ao seu casamento –cuja esposa acredita que seu trabalho confidencial
envolve a Inteligência?
Ao seu modo, este ótimo filme peruano, exemplo
notável de um cinema realizado tão perto de nós e normalmente tão distante de
nosso circuito comercial, encontrará uma resposta (ainda que tortuosa) para
cada uma dessas perguntas.
Dá para se divertir, dá para se emocionar, se
excitar e até refletir –um feito e tanto para uma obra descontraída e
descompromissada que almeja somente uma maliciosa (e graciosa) alfinetada nos
rigores do militarismo.
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