terça-feira, 5 de março de 2019

A Onda

Não confundir este com o filme homônimo alemão dirigido por Dennis Gansel –e cujo tema é completamente diferente.
Este trabalho dinamarquês guarda uma similaridade incontornável com o excelente “O Impossível”, dirigido por J.A. Bayona, ainda que, ao contrário dele, não se baseie em fatos reais, mas sim, em fatos presumíveis (!): Na Dinamarca, o fiorde de Geiranger (uma extensão de água com quilômetros de comprimento) localiza-se ao pé da grande montanha de Akneset na qual uma falha geológica representa tal preocupação que exige monitoramento constante de especialistas –como é narrado no prólogo, em linguagem documental, um desmoronamento, datado de 1934, resultou, como reação em cadeia, uma onda monumental que varreu a comunidade de então. De lá para cá, a montanha continuou apresentando atividades sísmicas e escala mais tímida e as cidades ao redor do fiorde se proliferaram, inclusive, com alto índice de turismo.
Todavia, é consenso dentre os especialistas que um desmoronamento vindouro é inevitável.
Este filme, dirigido por Roar Uthaug (cujo trabalho aqui deve tê-lo habilitado por realizar a aventura “Tomb Raider-A Origem”) imagina como seria tal catástrofe sobre o prisma de uma luta familiar por sobrevivência.
Nele, a Família Eikjord se prepara para uma mudança de ares: O patriarca Kristian (Kristoffer Joner), geólogo, aceitou emprego em outra cidade, e dentro em breve, partirá de Geiranger levando sua esposa, Idun (Ane Dahl Torp), e seus filhos, o adolescente Sondre (Jonas Hoff Oftebro) e a pequena Julia (Edith Haagenrud-Sande).
Entretanto, algo o deixa alarmado naqueles dias que precedem sua partida. Os dados coletados por medidores na montanha Akneset indicam estranhas mudanças; as placas tectônicas podem estar se contraindo, e a intuição de Kristian o alerta para um perigo iminente. Como é de praxe, na manobra mais clichê do roteiro, o chefe de Kristian não concorda de todo com as advertências dele, preferindo calar-se em prol de uma temporada turística mais tranquila.
Qualquer um, porém, do lado de cá da tela sabe que uma tremenda encrenca virá.
Para tanto, o diretor Uthaug emprega todos os expedientes possíveis do suspense, sedimentando o caminho entre a possibilidade da catástrofe até a catástrofe de fato com todos os tempos dilatados, cadências calibradas e informações de ordem técnica que se tem direito num filme de ficção –tão entusiasmado é seu trabalho com esse aparato todo que ele quase erra a mão na dilatação do tempo nessa primeira metade. Ele deixa bem claro o desastre que virá, mas especula tanto os indícios de sua vinda que ameaça irritar os mais afoitos.
Quando ocorre, por fim o desmoronamento, e uma onda de cerca de oitenta metros de altura se forma no fiorde indo em direção à Geirander, a narrativa acompanha os protagonistas em sua luta para preservar a própria vida: Kristian e Julia se acham na área superior da cidade (e têm que subir as colinas na tentativa de chegar a um ponto em que o tsunami não os atinja). Já Idun e Sondre estão no hotel onde ela trabalha, apinhado de turistas e localizado na parte baixa da cidade –logo, no local de maior risco (eles precisarão se refugiar no abrigo do lugar para escapar do implacável vagalhão de água).
Tal como em “O Impossível”, o drama que se segue à catástrofe (ilustrada com notáveis efeitos visuais empregados com elegância) visa acompanhar os esforços da família em reencontrar uns aos outros –o filme de Uthaug só não chega ao nível de excelência do de Bayona por ceder, em diversos momentos, à concessões características de filmes hollywoodianos, soando assim demasiadamente preocupado em parecer palatável e comercial.

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