2004. Tailândia. Buscando viver a tranquilidade
de suas férias de natal, a família Bennet acaba sendo uma das muitas colhidas
numa catástrofe até então impensável: o tsunami do norte da Ásia, que tirou
milhares de vidas e instantaneamente reduziu o lugar a escombros. Lutando para
sobreviver, Maria e seu filho mais velho Lucas buscam vencer as limitações
expostas pelos terríveis ferimentos, e encontrar seus demais familiares, Eric e
os pequeninos Thomas e Simon, entre as tantas vítimas que atolam as ruas e
hospitais.
Nesta magistral reconstituição de um fato real,
executada pelo ótimo diretor espanhol de "O Orfanato", J.A. Bayona, o
silêncio revela-se tão assustador e pungente quando os sons ensurdecedores que
irão encher de perplexidade a tela, sobretudo na avassaladora cena do tsunami.
Matreiro conhecedor do cinema de terror que é,
Bayona trabalha brilhantemente seus tempos e momentos palatáveis, em cenas de
baixa voltagem, nas quais evidencia as primorosas atuações de Naomi Watts e do
garoto Tom Holland, para construir, sem que o expectador perceba, a moldura
perfeita para o pesadelo que materializará dentro em breve.
O fato de ser baseado num acontecimento real é
somente um detalhe que acrescenta ainda mais poder ao seu trabalho. Todos os
detalhes estão ali para depor a favor do andamento da trama e seu avanço, até
mesmo aqueles que não viemos a perceber.
No primeiro ato, por exemplo, tudo faz lembrar
o presságio nefasto da tragédia: O som ameaçador das ondas, o balão que se
afasta estranhamente dos demais, a pausa incômoda que a montagem impõe entre
uma cena e outra.
Quando o filme mostra a quê veio, fica difícil
citar um dado que o exemplifique: Tanta coisa acontece em cena, tantos são os
sentimentos e as implicações sugeridas pela direção que o filme em si parece
refletir o turbilhão que arrebata seus personagens, e a encenação que se
constrói a partir dali é de um primor, e de um apuro visual que chega a sufocar
o expectador.
Há momentos em que essa
perfeição corre o risco de ser comprometida, é verdade, quando Bayona deixa-se
seduzir demasiado pela história que conta e abraça o melodrama. Nada disso,
porém, impede “O Impossível” de ser o grande filme que é, de sagrar-se como uma
experiência cinematográfica de inquestionável espanto e de incontornável emoção.
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