quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O Impossível

2004. Tailândia. Buscando viver a tranquilidade de suas férias de natal, a família Bennet acaba sendo uma das muitas colhidas numa catástrofe até então impensável: o tsunami do norte da Ásia, que tirou milhares de vidas e instantaneamente reduziu o lugar a escombros. Lutando para sobreviver, Maria e seu filho mais velho Lucas buscam vencer as limitações expostas pelos terríveis ferimentos, e encontrar seus demais familiares, Eric e os pequeninos Thomas e Simon, entre as tantas vítimas que atolam as ruas e hospitais. 
Nesta magistral reconstituição de um fato real, executada pelo ótimo diretor espanhol de "O Orfanato", J.A. Bayona, o silêncio revela-se tão assustador e pungente quando os sons ensurdecedores que irão encher de perplexidade a tela, sobretudo na avassaladora cena do tsunami. 
Matreiro conhecedor do cinema de terror que é, Bayona trabalha brilhantemente seus tempos e momentos palatáveis, em cenas de baixa voltagem, nas quais evidencia as primorosas atuações de Naomi Watts e do garoto Tom Holland, para construir, sem que o expectador perceba, a moldura perfeita para o pesadelo que materializará dentro em breve. 
O fato de ser baseado num acontecimento real é somente um detalhe que acrescenta ainda mais poder ao seu trabalho. Todos os detalhes estão ali para depor a favor do andamento da trama e seu avanço, até mesmo aqueles que não viemos a perceber. 
No primeiro ato, por exemplo, tudo faz lembrar o presságio nefasto da tragédia: O som ameaçador das ondas, o balão que se afasta estranhamente dos demais, a pausa incômoda que a montagem impõe entre uma cena e outra. 
Quando o filme mostra a quê veio, fica difícil citar um dado que o exemplifique: Tanta coisa acontece em cena, tantos são os sentimentos e as implicações sugeridas pela direção que o filme em si parece refletir o turbilhão que arrebata seus personagens, e a encenação que se constrói a partir dali é de um primor, e de um apuro visual que chega a sufocar o expectador. 
Há momentos em que essa perfeição corre o risco de ser comprometida, é verdade, quando Bayona deixa-se seduzir demasiado pela história que conta e abraça o melodrama. Nada disso, porém, impede “O Impossível” de ser o grande filme que é, de sagrar-se como uma experiência cinematográfica de inquestionável espanto e de incontornável emoção.

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