quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Tomb Raider - A Origem

Parecia (e, de fato, era) uma tarefa difícil reinventar “Tomb Raider” e sua icônica protagonista, Lara Croft, tornada tão marcante por Angelina Jolie em sua versão cinematográfica.
Os produtores dessa nova empreitada tinham na própria gênese da franquia –os videogames –uma inspiração: Lara Corft e todo o conceito de “Tomb Raider” haviam ganhado, anos antes, uma bem-sucedida reformulação ao aproximar da realidade os elementos de aventura que norteavam a série.
A intenção lógica dos produtores foi seguir em cinema esse mesmo caminho, e chegamos dessa forma a este “Tomb Raider-A Origem” que deleta os dois filmes estrelados por Angelina Jolie, deixando de lado aquele estilo espalhafatoso de ação escapista e descerebrada, e optando por mais austeridade, mais realismo e menos fantasia –uma abordagem que virou moda em algumas franquias hollywoodianas depois que Christopher Nolan fez muito bonito agregando essas características em “Batman Begins”.
Vivida pela jovem ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, Alicia Vikander, a heroína Lara Croft surge algo desmistificada no princípio do filme: Trabalha como entregadora; mora com amigos e treina numa academia de quinta. Longe daquela Lara cheia de glamour e altivez que vimos nos outros filmes (ou nos primeiros jogos de videogame).
Logo descobrimos que essa vida proletária é uma espécie de opção: Richard (Dominic West), o pai de Lar desapareceu a sete anos atrás. Embora aguarde por ela uma herança milionária, Lara só a terá quando declarar legalmente que seu pai morreu –e isso é algo que a jovem não está pronta para aceitar.
Ela quase cede a sua tutora Ana (Kristin Scott-Thomas, num papel certamente plantado para futuras continuações), mas desiste em cima da hora quando descobre uma pista que pode, enfim, leva-la ao seu paradeiro: Ao que parece, o pai de Lara partiu para uma ilha misteriosa no mar do Japão e nunca mais foi visto.
Tendo herdado a astúcia do pai para seguir pistas indiscerníveis para todos os outros, Lara enxerga a trilha e assim a segue mar adentro, levando consigo Lu Ren (Daniel Wu), filho do mesmo capitão de barco que também acompanhou seu pai.
A ilha em questão –de acesso dificílimo –esconde um terrível segredo: Os restos mortais da princesa Himiko, considerada em tempos imemoriais dotada de um poder mortal que poderia devastar o mundo; razão pela qual foi exilada na ilha.
Segundo indícios deixados a ela por Richard, uma misteriosa organização, a Trindade (liderada aqui pelo vilão padrão vivido por Walton Goggins), estaria tentando colocar as mãos nesse poder –e, portanto, é dever de Lara impedir que eles consigam.
Toda essa trajetória é pontuada por constantes cenas de ação que enfatizam o físico obstinadamente treinado da estrela Alicia Vikander, e a inclinação realista de sua narrativa –todas as cenas de ação e de luta primam por um aspecto esportivo, sem os artifícios mirabolantes dos filmes com Angelina Jolie.
E de fato, é o contraste entre os dois estilos interpretativos distintos das duas estrelas o grande diferencial de um filme para outro –ou ao menos aquele que mais se destaca: Angelina compunha uma Lara melindrosa, atrevida e sarcasticamente artificial, dentro da proposta do filme escapista que estrelava. Já, a sueca Alicia Vikander (cujo físico, diferente de Jolie, é mais esbelto e atlético) faz valer suas credenciais dramáticas numa Lara Croft mais naturalista e repaginada que –desde a fonte dos games –se inspira em influência mais distintas que incluem “Jogos Vorazes”; até um arco e flecha ela manuseia em dado momento!
Se Angelina Jolie ganhava mais em diversão e menos em sisudez, a Lara de Alicia Vikander protagoniza um filme que padece menos de seus excessos e que goza, no mínimo, do mérito de basear-se num material mais válido e interessante.
O grande problema é que, para os adeptos do videogame, o filme –como ocorre em todas as tentativas de adaptar videgames para cinema até então –perde de lavada para a trama e a ação que são desenvolvidos nos jogos, relegando este “Tomb Raider” a uma cotação entre o medíocre e o vagamente satisfatório.

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