Parecia (e, de fato, era) uma tarefa difícil
reinventar “Tomb Raider” e sua icônica protagonista, Lara Croft, tornada tão
marcante por Angelina Jolie em sua versão cinematográfica.
Os produtores dessa nova empreitada tinham na
própria gênese da franquia –os videogames –uma inspiração: Lara Corft e todo o
conceito de “Tomb Raider” haviam ganhado, anos antes, uma bem-sucedida
reformulação ao aproximar da realidade os elementos de aventura que norteavam a
série.
A intenção lógica dos produtores foi seguir em
cinema esse mesmo caminho, e chegamos dessa forma a este “Tomb Raider-A Origem”
que deleta os dois filmes estrelados por Angelina Jolie, deixando de lado
aquele estilo espalhafatoso de ação escapista e descerebrada, e optando por
mais austeridade, mais realismo e menos fantasia –uma abordagem que virou moda
em algumas franquias hollywoodianas depois que Christopher Nolan fez muito
bonito agregando essas características em “Batman Begins”.
Vivida pela jovem ganhadora do Oscar de Melhor
Atriz Coadjuvante, Alicia Vikander, a heroína Lara Croft surge algo
desmistificada no princípio do filme: Trabalha como entregadora; mora com
amigos e treina numa academia de quinta. Longe daquela Lara cheia de glamour e
altivez que vimos nos outros filmes (ou nos primeiros jogos de videogame).
Logo descobrimos que essa vida proletária é uma
espécie de opção: Richard (Dominic West), o pai de Lar desapareceu a sete anos
atrás. Embora aguarde por ela uma herança milionária, Lara só a terá quando
declarar legalmente que seu pai morreu –e isso é algo que a jovem não está
pronta para aceitar.
Ela quase cede a sua tutora Ana (Kristin Scott-Thomas,
num papel certamente plantado para futuras continuações), mas desiste em cima
da hora quando descobre uma pista que pode, enfim, leva-la ao seu paradeiro: Ao
que parece, o pai de Lara partiu para uma ilha misteriosa no mar do Japão e
nunca mais foi visto.
Tendo herdado a astúcia do pai para seguir
pistas indiscerníveis para todos os outros, Lara enxerga a trilha e assim a
segue mar adentro, levando consigo Lu Ren (Daniel Wu), filho do mesmo capitão de
barco que também acompanhou seu pai.
A ilha em questão –de acesso dificílimo –esconde
um terrível segredo: Os restos mortais da princesa Himiko, considerada em
tempos imemoriais dotada de um poder mortal que poderia devastar o mundo; razão
pela qual foi exilada na ilha.
Segundo indícios deixados a ela por Richard,
uma misteriosa organização, a Trindade (liderada aqui pelo vilão padrão vivido
por Walton Goggins), estaria tentando colocar as mãos nesse poder –e, portanto,
é dever de Lara impedir que eles consigam.
Toda essa trajetória é pontuada por constantes
cenas de ação que enfatizam o físico obstinadamente treinado da estrela Alicia
Vikander, e a inclinação realista de sua narrativa –todas as cenas de ação e de
luta primam por um aspecto esportivo, sem os artifícios mirabolantes dos filmes
com Angelina Jolie.
E de fato, é o contraste entre os dois estilos
interpretativos distintos das duas estrelas o grande diferencial de um filme
para outro –ou ao menos aquele que mais se destaca: Angelina compunha uma Lara
melindrosa, atrevida e sarcasticamente artificial, dentro da proposta do filme
escapista que estrelava. Já, a sueca Alicia Vikander (cujo físico, diferente de
Jolie, é mais esbelto e atlético) faz valer suas credenciais dramáticas numa
Lara Croft mais naturalista e repaginada que –desde a fonte dos games –se inspira
em influência mais distintas que incluem “Jogos Vorazes”; até um arco e flecha
ela manuseia em dado momento!
Se Angelina Jolie ganhava mais em diversão e
menos em sisudez, a Lara de Alicia Vikander protagoniza um filme que padece
menos de seus excessos e que goza, no mínimo, do mérito de basear-se num
material mais válido e interessante.
O grande problema é que,
para os adeptos do videogame, o filme –como ocorre em todas as tentativas de
adaptar videgames para cinema até então –perde de lavada para a trama e a ação
que são desenvolvidos nos jogos, relegando este “Tomb Raider” a uma cotação
entre o medíocre e o vagamente satisfatório.
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