Na ânsia de definir o relevo sarcástico,
irônico e pleno de humor negro experimentado por seu personagem principal, a
diretora Coline Serreau (da versão francesa de “Três Solteirões e Um Bebê”)
exagera um pouco nos diálogos expositivos, dando ao filme, já em seu começo, um
aspecto engessado e excessivamente dialogado de teatro.
Esse personagem principal trata-se de Victor
(Vincent Lindon, de “Betty Blue”), um advogado outrora bem-sucedido, cuja vida
de conforto se converte num pesadelo: De uma hora para outra, sua esposa o
abandona –deixando para trás ingratidão e dois filhos! –e seu ganha-pão se vai
–a firma em que trabalhava apenas o demite sem maiores esclarecimentos.
A partir do viés reflexivo que sua própria
crise lhe acarreta, Victor se conscientiza também das aflições dos outros a sua
volta.
Ainda que irregular, o
filme consegue agradar em seu histerismo. O maior problema de “A Crise” é o
mesmo que aflige tantas obras com tais características: A concepção de que, em
algum momento, a seriedade adulta deve comparecer à premissa. Enquanto o plot
trabalha alegremente o humor negro, o filme se mostra caricato, engraçado. Em
algum ponto de sua segunda metade, no entanto, o filme parece sentir obrigação
de discutir seu enredo com intenções mais profundas do que simplesmente fazer
rir, e nessa desfaçatez do próprio deboche o filme perde em ritmo, em graça e
em interesse.
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