Não se pode dizer que “Betty Blue” seja o
melhor filme da carreira do diretor Jean-Jacques Beineix, mas pode-se dizer que
é o mais conhecido. Também pode se dizer que muito do que o filme é depende
mais da atriz escolhida para o papel principal do que da técnica e do estilo de
seu diretor, oposto o quê ocorre em outros filmes seus, oriundos dos anos 1980,
e parte daquela curiosa leva de filmes franceses que traziam uma estética
pós-moderna ao cinema comercial europeu capitaneados por Luc Besson e vários
outros jovens e atrevidos cineastas: “Subway”, “Nikita”, “A Lua e A Sarjeta”, “Mauvais
Sang” e outros.
Da forma como está e no período em que foi lançado
(meados de 1986), “Betty Blue” está para Beineix mais ou menos como “Imensidão
Azul” está para Besson: Um trabalho posterior no qual, passado o choque de suas
primeiras experiências na sétima arte, ele permitiu-se contar uma história com
relativa intensidade desta vez flertando com uma maturidade ainda inédita em
seus trabalhos antecessores.
Contudo, é inevitável falar de “Betty Blue” e
não falar de Beatrice Dale.
O filme é sua estréia no cinema, sendo também
um caso no qual a atriz encaixou-se como uma luva ao papel –e Betty não é um
papel dos mais simples: Sexualizada, trágica, dilacerada, aparentando uma
inicial superficialidade que depois dá lugar a um sentimento de vazio que
contamina o filme com drama.
Sua trama inicia-se bucólica quando um encontro
pontuado por sexo casual à beira-mar com o jovem Zorg (Jean-Hugues Anglade)
converte-se rapidamente num relacionamento.
A medida que se tornam um casal e passam a
alimentar sonhos cada vez mais palpáveis de uma vida a dois, a condição social
de Zorg e Betty se transforma levando-os à outros lugares, conhecendo outras
pessoas.
Como na vida, Beineix pontua essa trajetória
com altos e baixos. E como na tradição dramática, ele reserva sua faceta cruel
de contador de histórias para a segunda metade, quando confronta Betty –e sua
fragilidade emocional, muito bem ilustrada nas formas sensuais e expressões de
tristeza de Beatrice Dale –com verdades cruéis.
A jornada, a partir daí, e
até o final, é ladeira abaixo, no qual o diretor tão somente observa as ações
de seus personagens ante uma agonia que só faz definir sua existência. É uma
postura bastante característica das escolhas artísticas que orientavam aqueles
cineastas e sua dramaturgia naqueles anos 1980, e hoje em dia, diante da inércia
sensorial e alienação emocional de muitos filmes atuais –alguns até enaltecidos
pela crítica –fica ainda mais notável.
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