sábado, 17 de dezembro de 2016

Betty Blue

Não se pode dizer que “Betty Blue” seja o melhor filme da carreira do diretor Jean-Jacques Beineix, mas pode-se dizer que é o mais conhecido. Também pode se dizer que muito do que o filme é depende mais da atriz escolhida para o papel principal do que da técnica e do estilo de seu diretor, oposto o quê ocorre em outros filmes seus, oriundos dos anos 1980, e parte daquela curiosa leva de filmes franceses que traziam uma estética pós-moderna ao cinema comercial europeu capitaneados por Luc Besson e vários outros jovens e atrevidos cineastas: “Subway”, “Nikita”, “A Lua e A Sarjeta”, “Mauvais Sang” e outros.
Da forma como está e no período em que foi lançado (meados de 1986), “Betty Blue” está para Beineix mais ou menos como “Imensidão Azul” está para Besson: Um trabalho posterior no qual, passado o choque de suas primeiras experiências na sétima arte, ele permitiu-se contar uma história com relativa intensidade desta vez flertando com uma maturidade ainda inédita em seus trabalhos antecessores.
Contudo, é inevitável falar de “Betty Blue” e não falar de Beatrice Dale.
O filme é sua estréia no cinema, sendo também um caso no qual a atriz encaixou-se como uma luva ao papel –e Betty não é um papel dos mais simples: Sexualizada, trágica, dilacerada, aparentando uma inicial superficialidade que depois dá lugar a um sentimento de vazio que contamina o filme com drama.
Sua trama inicia-se bucólica quando um encontro pontuado por sexo casual à beira-mar com o jovem Zorg (Jean-Hugues Anglade) converte-se rapidamente num relacionamento.
A medida que se tornam um casal e passam a alimentar sonhos cada vez mais palpáveis de uma vida a dois, a condição social de Zorg e Betty se transforma levando-os à outros lugares, conhecendo outras pessoas.
Como na vida, Beineix pontua essa trajetória com altos e baixos. E como na tradição dramática, ele reserva sua faceta cruel de contador de histórias para a segunda metade, quando confronta Betty –e sua fragilidade emocional, muito bem ilustrada nas formas sensuais e expressões de tristeza de Beatrice Dale –com verdades cruéis.
A jornada, a partir daí, e até o final, é ladeira abaixo, no qual o diretor tão somente observa as ações de seus personagens ante uma agonia que só faz definir sua existência. É uma postura bastante característica das escolhas artísticas que orientavam aqueles cineastas e sua dramaturgia naqueles anos 1980, e hoje em dia, diante da inércia sensorial e alienação emocional de muitos filmes atuais –alguns até enaltecidos pela crítica –fica ainda mais notável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário