Dirigida em 1970 por Tony Richardson, de “As
Aventuras de Tom Jones”, esta é uma versão do famoso fora-da-lei australiano
–outras versões mais conhecidas são as dirigidas por Yahoo Serious (de, “O Jovem
Einstein”), esta em versão satírica, em 1994, e a mais tradicional e biográfica
realizada por Greg Jordan, com Heath Ledger, em 2003 –cuja trama inicia-se
atrevida com um prólogo em preto & branco nomeado “O Fim” (!). Vemos,
portanto, que o protagonista, encarcerado e em iminente enforcamento por seus
delitos, não acaba nada bem. A seguir, o filme adquire cores quando o outro
segmento –que responde por todo o restante do filme –se inicia, “O Começo”.
Eis que vemos então Ned Kelly, interpretado
pelo astro musical Mick Jagger (cuja escolha gerou controvérsia), em retorno ao
rancho da família após cumprir uma pena na prisão.
Sobretudo, o trabalho de direção de Richardson
parece desdobrar-se para contornar o fato de que seu protagonista é o mais
fraco ator em cena –algo razoável visto que Mick Jagger é uma grande presença
não um grande intérprete –ele o centraliza como uma figura fixa, deixando que
os demais membros do elenco perambulem em torno dele, ostentem suas
peculiaridades, apresentem suas reações. A ele, aparentemente, cabe ser o
objeto imutável que acarreta as transformações, ora o caos; a força da natureza.
É um recurso inteligente que, por seu emprego
constante do início ao fim do filme, acaba enervando o expectador.
Sobretudo, porque Richardson opta por uma
narrativa evocativa e idílica, permeada por canções de autoria de Shel Silverstein,
interpretadas por Kris Kristoferson e Waylon Jennings –somente uma delas é
executada no filme por Jagger.
O grande drama que Ned Kelly protagonizou se
deve pela intolerância e intransigência de sua comunidade e suas autoridades na
época –entre 1878 e 1880 –que recusaram-se a aceita-lo como um cidadão redimido
após sua passagem na cadeia.
Tendo até mesmo sua mãe e suas irmãs
hostilizadas pela comunidade, restou a Kelly fazer aquilo que dele já
esperavam: Uniu-se a seu irmão mais novo e dois amigos e formou uma gangue que
passou a assaltar bancos, matar policiais e desafiar o sistema que não
aceitou-o, transformando-se assim numa figura lendária, o bandido mais
procurado do país.
Particularmente antológica (ao menos, na
teoria) é a batalha final, onde a gangue de Kelly, trajando armaduras de ferro
improvisadas que lhes protegia contra os tiros leva consigo inúmeros
policiais –uma pena que o filme não soube encontrar um meio de faze-la, de
fato, antológica (na prática).
O trabalho de Richardson busca uma fusão entre
o cinema inglês do período –em meio ao qual ele era uma das referências –e o
experimentalismo peculiar, pleno de expedientes notáveis do cinema australiano
da mesma época, entretanto, seu filme é definido mesmo pelos inúmeros
contratempos que ocasionaram as filmagens realizadas em Braidwood, Austrália:
Doenças que assolaram o elenco e a equipe técnica, acidentes que ameaçaram seus
coadjuvantes e até seu protagonista, incêndios que comprometeram materiais da
produção, e uma troca de atrizes cercada por circunstâncias trágicas –a irmã de
Ned, vivida por Diane Craig, era para ser interpretada por Marianne Faithfull,
então namorada de Jagger, que terminou afastada devido a uma overdose de
soníferos no set de filmagens.
Esse amargo teor caótico
está todo lá no filme, fazendo indeterminado seu ritmo, confusa sua atmosfera
e, no fim das contas, enfadonho o seu andamento.
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