sábado, 21 de setembro de 2019

Meninas Malvadas

Tendo realizado um belo trabalho na refilmagem de “Sexta-Feira Muito Louca” –do qual Jamie Lee Curtis saiu com um merecido Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia –o diretor Mark Waters soube dar prosseguimento à sua esteira de realizações preservando um estilo descompromissado e o gênero no qual tão bem trabalhou, a comédia.
Assim, “Meninas Malvadas” é novamente uma comédia com ares adolescentes e novamente traz Lindsay Lohan no elenco –e, acredite se quiser, ainda mais promissora e cativante do que em sua colaboração anterior com Waters: Hoje, em vista de todos os transtornos passados em sua carreira e sua vida pessoal fica até estranho assistir um filme onde tudo transcorre harmoniosamente e no qual ela vive a garota comportada.
Há também, em “Meninas Malvadas” um elemento que o torna mais relevante que o filme anterior de Waters: O roteiro esperto, carregado de minúcias reflexivas, da também atriz Tina Fey.
Ela inspirou-se no livro “Queen Bee And Wannabees”, que não é de ficção, mas uma obra de estudo e avaliação psicológica sobre o comportamento adolescente (sobretudo, o feminino) e suas tendências inconscientes em criar hierarquias às vezes bastante cruéis.
Fascinada com o tom descontraído com o qual o livro introduz questões de ordem antropológica e as tornava palatáveis, Tina extraiu do livro uma premissa básica cujo avanço narrativo da trama permitia a pontuação de todos os tópicos ali abordados –o resultado é um filme adolescente que, sem despir-se do humor, do romance, e das características que apelam ao público dessa idade, observa as atitudes dos protagonistas e antagonistas com um viés inteligente de compreensão.
Lindsay Lohan vive Cady Heron, a típica garota recém-chegada à nova escola. Mais que isso: Filha de pais exploradores, Cady foi educada em casa –hábito comum em certos locais dos EUA parodiado num prólogo divertidíssimo –e sua consequente ida, aos 16 anos, para uma escola pública representa uma ida à um mundo completamente estranho e diferente.
Lá –instruída por suas primeiras amizades, Janis (Lizzy Caplan) e Damian (Daniel Franzese) –ela descobre que existem tribos diversas, os nerds, os desajustados os desportistas, os artistas, as poderosas, etc.
São as poderosas, de acordo com Janis, que gozam do privilégio de serem consideradas a elite popular entre os estudantes. E é entre as poderosas que está o grande desafeto de Janis: A arrogante, fingida e manipuladora Regina George (Rachel McAdams, ótima) que dela já foi amiga, antes de difama-la para toda a escola.
E é exatamente aí, no frescor que permite à Cady adentrar qualquer tribo na nova escola que reside a ideia a dar o estopim a uma espécie de plano de vingança de Janis: Já que ninguém sabe que Cady é amiga dela, a novata poderá infiltrar-se no restrito clube das poderosas –que, além de Regina inclui a abilolada Karen (Amanda Seyfried) e a devotada Gretchen (Lacey Chabert, do seriado “O Quinteto”) –e sabotar a imagem de perfeição de Regina.
O plano até vai dando certo –Regina perde sua credibilidade (numa série de intrigas que fragilizam seu grupo de amigas), suas armas de sedução (ao engordar comendo barras de cereais sugeridas por Cady) e o namorado atleta que ostentava (Jonathan Bennett que, com ela e Lohan, compõem o triângulo amoroso da trama) –contudo, o sacrifício para isso acaba sendo a própria inocência de Cady (que gradualmente vai perdendo sua transparência para adquirir, sem notar, a falsidade do comportamento das poderosas) e por conta disso, a amizade dela com Janis e Damian.
O roteiro de Tina Fey evolui essa narrativa até desembocar num caos que envolve praticamente toda a escola –ou, pelo menos, todas as meninas da escola –dando ao público um microcosmos divertido por meio do qual podemos observar as consequência individuais de certas ações sobre toda uma comunidade; nesse sentido, uma versão não tão ácida e bem mais agridoce de “Atração Mortal”.
Terminado, o filme de Waters oferece redenção às suas protagonistas, uma crítica social nada demagógica aos seus expectadores junto de uma dose considerável de simpática diversão, isso tudo, para uma mera comédia adolescente é admirável.

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