Pérola destacada entre as inúmeras pérolas que
o italiano Dario Argento urgiu dentro do gênero de terror ao longo de sua
carreira, “Suspiria” une mais do que inteligência e talento, uma percepção
desigual de estilo moldada com brilhantismo dentro da fórmula básica que sempre
fascinou Argento –e que ele soube tornar fascinante aos olhos também dos
inúmeros admiradores que conquistou.
O princípio de “Suspiria”, para os
conhecedores, é realmente Dario Argento puro: Uma mocinha norte-americana chega
à cidade alemã de Friburgo e são necessários breves detalhes espertamente
plantados para notarmos que ela é a clássica protagonista em apuros que
centraliza a fórmula da maioria dos contos macabros de Argento.
Vivida por Jessica Harper com uma aflição
indissolúvel no olhar de ponta a ponta, a jovem Suzy Bannion chega à Academia
de Dança Tanz em meio a uma nebulosa comoção: Quase a cruzar-se com ela durante
a entrada, uma outra aluna, Pat (Eva Axen), foge da escola transtornada.
Em sua fuga –que se desdobra numa cena para
longe da protagonista e do ambiente principal de todo o resto do filme –Pat
refugia-se no apartamento de uma amiga, somente para ser vitimada minutos
depois por algo muito sinistro.
Suzy descobre a morte da garota na manhã
seguinte, assim como os códigos de conduta da estranha escola, cujas
professoras (e algumas alunas também) fazem intrigante mistério acerca da
presença de sua diretora.
Suzy sabe que seu breve encontro com Pat possui
uma pista a respeito do que existe de tão pouco confiável naquela escola e,
como toca no cinema da reconstituição, do olhar fugidio e do testemunho
abstrato de Argento, ela rememora seguidamente ao longo do filme aquele
instante, em busca de um esclarecimento enquanto novos e tenebrosos
acontecimentos vão se enfileirando: O pianista cego das aulas de dança é
estranhamente morto pelo próprio cão e até mesmo Sara (Stefania Casini), melhor
amiga de Suzy e outra que alimentava fortes suspeitas em relação à escola e às
pessoas de lá, encontra um final dos mais sinistros.
A medida que percebe os comportamentos nada
comuns do corpo docente da escola –a rigorosa e afetada Miss Tanner (Alida
Valli), o mordomo romeno e sorumbático Pavlo (Giuseppe Transocchi), a suspeita
Madame Blanc (Joan Bennett, de “Não Somos Anjos”) –Sara descobre novas
informações obtidas com um psicólgo (Udo Kier, de “Sangue Para Drácula”) com
quem Sara já vinha conversando, e dá continuidade à investigação dela.
Além do fato bastante evidente de Dario Argento
e sua equipe terem aqui atingido um ápice técnico e artístico de primorosa e
orgânica percepção de cena, o que confere diferencial palpitante à “Suspiria” é
o trabalho visual estupendo perpetrado por Argento que troca o jogo
convencional de sombras por um manejo ininterrupto de cores nos cenários, nos figurinos,
na iluminação e nos filtros de câmera que transformam o filme numa verdadeira
experiência sensorial: Durante a primeira parte, por exemplo, quando ainda
trabalha a sugestão, não é raro Argento contrapor uma cena trivial de diálogo,
onde todo o cenário e os adereços cênicos são de um único tom de cores frias
(um azul turquesa acompanhado de verde), com a incômoda aparição de algum
pequeno elemento da cor vermelho-sangue, deixando o expectador com uma pulga
atrás da orelha.
Nos seus momentos mais intensos, "Suspiria" imerge o público em cenas banhadas de vermelho, azul ou amarelo; cores que ressaltam o desconforto de suas personagens.
Apesar de possuir mais
elaboração e profissionalismo que outros projetos anteriores de Argento (e até
alguns posteriores), “Suspiria” ainda assim é baseado nas características
instintivas de seu estilo: Elas surgem em pequenas inserções da narrativa,
sobretudo, nas cenas com animais e outras criaturas –os vermes que caem do teto
do quarto; ou o morcego que invade repetinamente o banheiro –para evidenciar
que o mundo, na cartilha de Argento, é perigoso e inóspito, mesmo quando não
existem assombrações espreitando nas sombras.
Nos seus momentos mais intensos, "Suspiria" imerge o público em cenas banhadas de vermelho, azul ou amarelo; cores que ressaltam o desconforto de suas personagens.
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