segunda-feira, 13 de julho de 2020

Conde Yorga, Vampiro

Vivido com notável presença por Robert Quarry, o vampiro protagonista deste filme dos anos 1970 (dos poucos que se atreveram a ombrear a fama inconteste da criação original de Bram Stoker) é uma interessante alternativa entre o Drácula requintado e pantomimeiro de Bela Lugosi e o Dráculo raivoso e soturno de Christopher Lee exatamente por reunir habilmente características de ambos.
O filme de Bob Kelljan começa num prólogo sinistro onde o narrador George Macready estabelece as circunstâncias da crença ou do ceticismo em torno do mito dos vampiros, para então, migrar para a cena inicial, uma sessão mediúnica que conta justamente com a presença do personagem de Quarry em meio à meia-dúzia de presentes.
Ninguém, contudo, sabe ainda que trata-se de um vampiro.
Durante a sessão, notamos que Donna (Donna Anders) deseja entrar em contato com a mãe falecida à pouco, e que o aristocrata búlgaro Yorga, preside a sessão, dividida entre o assombro dos que creem, e o deboche dos que duvidam –de certa maneira, um verniz que reveste as considerações de todo o filme do início ao fim.
Encerrada a sessão –na qual Yorga, despercebido dos demais, usa de seus dons para influenciar Donna –o imigrante vai embora e recebe carona de um dos casais, Paul (Michael Murphy, de “Voar É Com Os Pássaros” e “Ao Vivo de Bagdá”) e Erica (Judy Lang). Quando os dois voltam da mansão de Yorga, seu carro atola num local suspeito e improvável e eles têm que esperar –não sem antes promover uma cena descontraída de sensualidade só para enfatizar os novos e desprendidos tempos a que o filme pertence (!).
Ainda na calada da noite, eles são atacados. Paul e Erica desmaiam. No outro dia, o único indício de algo estranho são as marcas no pescoço dela, sua fraqueza e falta de sangue, o que desperta a desconfiança do Dr. Hayes (Roger Perry), amigo médico a quem eles recorrem e personagem cujas dúvidas em torno da existência de um vampiro acabam movimentando a narrativa do filme.
“Conde Yorga” se ocupa de mostrar a lenta conversão de Erica ao estado de noiva do vampiro, de maneira que, sendo ela morena, termina até o final integrando o trio no qual já existe uma ruiva e uma loira.
Enquanto os planos do vampiro prosseguem em seu curso –planos estes que têm a ver com Donna e cujos reais propósitos são somente revelados perto do fim –o filme de Kelljan se ocupa das tentativas infrutíferas dos personagens em alertar a polícia e outros orgãos competentes sobre a ameaça do vampiro encontrando sempre a incredulidade a auxiliar o acobertamento da criatura da noite.
Aliás, a descrença já começa no núcleo principal com Paul e Michael (Michael Macready) reticentes em acatar os indícios cada vez mais óbvios levantados pelo Dr. Hayes; é, portanto, em torno disso –a incredulidade dos novos tempos –que a trama de vampiros gira e da qual tira o diferencial para se abastecer; uma vez que seu antagonista Yorga, embora muito bem caracterizado, muito bem atuado e certamente charmoso, reúne tantos elementos inconfundíveis de Conde Drácula e vampiros afins que pode-se dele dizer tudo, menos que seja original.

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