terça-feira, 14 de julho de 2020

As Panteras

Em seu formato originário de série de TV, “As Panteras” seguia –até por imposições orçamentárias –uma linha mais detetivesca e investigativa. Quando foi vertido para o cinema no ano 2000, estrelado por Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu e dirigido por McG, “As Panteras” adquiriu escopo mais extravagante e assimilou uma miríade de referências cinematográficas de sua época (algumas pouco apropriadas ao seu próprio material) como lutas de kung-fu ao estilo “Matrix” (!) e todo o arsenal visual e estilístico de seu um tanto histriônico diretor. Ainda assim, seu sucesso rendeu uma continuação em 2003.
Já passados quase vinte anos daquele esforço inicial, “As Panteras” voltam a dar as caras no cinema, desta vez dirigidas pela também atriz Elizabeth Banks que aproveitou a oportunidade para agregar novas atitudes comportamentais à nova obra, relativas, como não poderia deixar de ser, ao contundente movimento de empoderamento feminino, a exemplo do recente “Aves de Rapina”.
As novas Panteras são ainda mais audaciosas, independentes e auto-suficientes em relação aos homens do que suas antecessoras, e caso não tenha ficado bem claro, isso já é explicitado no diálogo da cena inicial –ambientada no Rio de Janeiro, olhe só! –entre a personagem de Kristen Stewart e um alvo qualquer.
Kristen Stewart, por sinal, é uma das boas surpresas do filme: Enérgica, eufórica e incontrolável, sua personagem, Sabina, não lembra em nada a caracterização sorumbática que ela dá à protagonista Bella, de “Crepúsculo”.
Junto dela, está também a eficiente agente de campo Jane, vivida pela deslumbrante Ella Balinska.
Completando o trio principal, está Elena, interpretada pela maravilhosa Naomi Scott, conhecida da diretora Banks desde que trabalharam juntas no set de “Power Rangers”. Naomi, ou melhor, Elena é o que se pode chamar de protagonista do filme: A narrativa adota sua ótica subjetiva para, na maior parte do tempo, mostrá-la adentrando e descobrindo esse novo mundo. Elena é uma das brilhantes programadoras que trabalha na empresa milionária de seu patrão, o Sr. Brok (Sam Claffin, que trabalhou com a diretora Banks no set de “Jogos Vorazes-Em Chamas”). Inteligente, Elena descobre um pequeno problema colateral na nova e revolucionária tecnologia que Brok irá revelar ao mundo: Ao mesmo tempo em que é um programa capaz de operar em qualquer mainframe, é também capaz de gerar um poderoso pulso eletro-magnético tão forte que pode matar vidas humanas.
Inicialmente, ela tenta alertar seus superiores sobre isso –e é reprimida naquele tipo e encenação padrão que gosta de sublinhar a avareza e a insensatez masculina.
Depois, de posse de um cartão da Agência Towsend (que representa as Panteras), Elena contata os famosos investigadores (ou investigadoras) e, nesse processo, descobre que sua vida está em perigo.
Agora, na qualidade de ‘pantera em treinamento’, Elena terá de contar com Sabina e Jane, além da chefe Bosley (a própria diretora Banks, num papel pela primeira vez interpretado por uma mulher), para impedir misteriosos mal-feitores de vender o programa dotado do poder de matar no mercado negro de armas.
Tal e qual foi tentado nos filmes de 2000 e 2003, este novo “As Panteras” assume ares de filme grandioso de ação, e sua trama adquire reflexos condicionados dos thrillers de espionagem pós-modernos, como “Missão Impossível” (também ela uma série televisiva convertida em série cinematográfica) e “007”. Nessa reafirmação convicta de gênero, “As Panteras” apresenta os cacoetes de sempre –locações européias refinadas (começando em Hamburgo, na Alemanha, e daí para frente), cenas de perseguição e tiroteio, bugigangas tecnológicas e sequências de luta empenhadas num rigor físico coreografado –contudo, sai-se muito bem no resultado porque a direção de Elizabeth Banks é mais competente, equilibrada e sensível que a do histérico McG, e porque suas três protagonistas encontram facilidade em fazerem-se maravilhosas: A dinâmica de provocações verbais, camaradagem e rivalidade entre Kristen Stewart e Ella Balinska é um divertimento só, e Naomi Scott está encantadora e sensacional na pele da aprendiz de Pantera, para quem esse mundo novo de espionagem que se descortina à sua frente é quase como um clube restrito e exclusivo ao qual ela teve a sorte de ser convidada.
Um ponto interessante no filme de Elizabeth Banks é que ele reconhece todas as obras relativas às Panteras –desde o seriado dos anos 1970 e 80, até os filmes dos anos 2000 –como sendo parte do mesmo universo: E por isso, há em alguns momentos, referências aos filmes e à série, sobretudo, nas divertidas cenas pós-créditos, que contam entre outras com a participação de uma das panteras originais Jaclyn Smith.

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