terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Missão Impossível

Após uma carreira de inquestionável sucesso como um dos maiores astros de Hollywood, Tom Cruise enveredou pela carreira de produtor –e nessa, até hoje continua meio claudicante –seu projeto de estréia, cuidadosamente bem escolhido, foi esta bela e vistosa adaptação cinematográfica da famosa série de TV.
Cruise cercou-se de expressivos (e ostensivos) realizadores para incrementar a produção: O diretor Brian De Palma (naquele que deve ser seu trabalho menos autoral), o lendário e oscarizado roteirista Robert Towne (de “Chinatown") –além de vários outros que trabalharam nas versões anteriores do roteiro como Steven Zaillian e David Koepp –e, no elenco, é obvio, Tom Cruise reservou para si mesmo o papel principal, o do agente Ethan Hunt que, a medida que a narrativa segue torna-se de fato o centro da trama, em detrimento de Jim Phelps, verdadeiro oriundo da série (e interpretado por Jon Voight, outra escolha ostensiva).
Outras participações: A linda francesa Emmanuelle Beart (cuja pouca sintonia com Cruise em cena deu à sua personagem um rumo que evidentemente não estava planejado no roteiro), a inglesa Kristin Scott-Thomas (antes do reconhecimento por “O Paciente Inglês”), o francês Jean Reno, e os chapas de Cruise, Emilio Estevez e Ving Rhames (no único personagem além de Cruise que persiste em todos os filmes). Além das breves e requintadas aparições de Vanessa Redgrave e Henry Czerny.
A história já ensaia uma reformulação do conceito da série, deixando bem claro os novos caminhos almejados pela nova versão: Recrutados pelo veterano Jim Phelps (Voight), um grupo de agentes peritos em infiltração do credenciado departamento "missão impossível", entre os quais o agente de campo Ethan Hunt (Cruise), cai no que parece ser uma cilada, e tornam-se todos (os que não morreram, pelo menos) fugitivos caçados pelo Serviço Secreto, por traição –nessa primeira pretensa reviravolta do roteiro, a metade dos atores mencionados acima são já descartados.
Cabe ao próprio Ethan assim reunir um novo time, capaz de descobrir a complexa conspiração de que foram vítimas e revelar a identidade dos verdadeiros culpados –e como todo o roteiro escrito e reescrito por várias mãos (especialmente pertencentes a contadores melindrosos de histórias rocambolescas), “Missão Impossível” tem uma premissa complicada que se ramifica em várias situações que exigem atenção do expectador. Nos filmes posteriores, essa tendência foi se suavizando em prol de obras de ação mais acessíveis.
O diretor Brian De Palma confere ao filme um charmoso e sofisticado ar de thriller de espionagem europeu, graças inclusive ao seu elenco internacional, e embora obtenha um resultado plenamente satisfatório, fica muito aquém da qualidade intrínseca e sólida de “O Fugitivo”, lançado poucos anos antes, também ele adaptado de uma famosa série de TV e nitidamente a base referencial pela qual este trabalho se inspira: A condução de Brian De Palma, por incrível que possa parecer, lembra mais a do diretor Andrew Davis (realizador daquele filme) do que a sua própria.

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