A gênese da série “Power Rangers” foi das mais
picaretas: Basicamente, a produtora Saban adquiriu os direitos de exibição
daqueles seriados japoneses, como “Changeman” –que chegou a ser exibido no
Brasil em meados dos anos 1980 –e, naquela mania norte-americana de tentar
evitar material estrangeiro, fizeram uma espécie de “adaptação”; as cenas de
diálogos, nas quais a trama era inserida e o elenco principal era mostrado,
foram substituídas por um elenco americano no melhor estilo “Malhação”,
enquanto que as cenas que envolviam ação, lutas, e efeitos especiais foram
mantidas –recurso possível porque os heróis japoneses sempre usavam máscaras
que lhes escondiam todo o rosto. O resultado era uma colagem quase sempre
mambembe e desvairada –“Power Rangers” desenvolvia assim histórias próprias e
um bocado descerebradas.
Essa tática extremamente barata garantiu
longevidade à série e, nesse processo, dezenas de seriados com super-heróis
japoneses foram reciclados.
O tempo passou e “Power Rangers”, apesar de
toda sua aura fuleira, virou objeto de nostalgia.
Isso serve mais ou menos para chegarmos ao
longa-metragem para cinema, lançado em 2017 –ele não é o primeiro: Quando a
série ainda era exibida, nos anos 1990, foi realizado um longa-metragem para
cinema com o elenco original, ligeiramente superior à série, o quê,
convenhamos, não quer dizer muita coisa...
Mas, com este novo filme as coisas são
diferentes.
Os personagens, a trama e a mitologia que
criou-se em torno da série ganham aqui um respeito que o produto original nunca
fez por merecer.
Dirigido com disposição por Dean Israelite o
filme compensa a condução de atores frouxa e afetada com uma técnica narrativa
sempre admirável: O filme já se inicia com dois momentos muito interessantes; o
prólogo que rapidamente estabelece a história de Zordon e os ‘rangers’ e a cena
seguinte onde a câmera registra um acidente de dentro do carro e realiza
diversos giros de 360 graus.
A trama que segue a partir daí depõem a favor
do bom-senso de seus realizadores que usaram da mais palatável dentre todas as
referências cinematográficas para esse tipo de filme –“O Clube dos Cinco”, de
John Hugues.
As semelhanças são até gritantes: Começa em uma
sala de detenção (até o cenário lembra bastante o filme de Hugues!), e trata
então de apresentar seus personagens –o esportista descolado, Jason (Dacre
Montgomery); a patricinha rejeitada pelas outras, Kimberly (Naomi Scott); o
nerd inteligente, divertido e vítima eventual de bulliyng, Billy (RJ Cyler).
Aos três, mais tarde, somam-se o rebelde descendente de orientais Zack (Ludi
Lin) e a desajustada Trini (Becky G).
Juntos, eles encontram a nave na qual as
informações acerca dos ‘rangers’ –assim como o espírito de Zordon (Bryan
Cranston), nela confinado –irão lhes revelar o destino heróico que lhes aguarda.
Era de se supor que a presença dos mais
veteranos Bryan Cranston e Elizabeth Banks (como a carnavalesca vilã Rita
Repulsa) compensasse a inexperiência dos atores mais jovens, contudo, ao invés
de solidez, eles ostentam o mesmo desleixo.
Mas, o filme, verdade seja dita, beneficia-se
de uma expectativa bastante amena em relação ao projeto –quem em sã
consciência, mesmo que aficcionado em “Power Rangers” na infância –encararia o
filme esperando uma obra-prima?
Do jeito como está, o
trabalho de Israelite, embora não escape de algumas falhas pontuais (ritmo
apressado em muitos momentos, caracterização afetada, edição irregular), é
muito bom: É o tal caso em que os acertos compensam amplamente os erros.
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