O diretor Jacques Audiard demonstrou extraordinário
refinamento cinematográfico com este sensacional filme de prisão (na realidade,
ele já o havia feito com o anterior “De Tanto Bater Meu Coração Parou”) onde
ele se desfaz de referências inevitáveis do gênero (como o insuperável “UmSonho de Liberdade”), para narrar uma trajetória que mais se aproxima, em
charme de circunstância, do molde narrativo de “O Poderoso Chefão”.
E, para os descrentes nessa afirmação, fica a
garantia de que ele realizou um verdadeiro filmaço! Em sua excelência, “O
Profeta” teve méritos suficientes para concorrer, em 2009, ao Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro, disputado com as também obras-primas “A Fita Branca”, de
Michael Haneke, e “O Segredo dos Seus Olhos”, de Juan Jose Campanella –o prêmio
acabou vencido por esse último.
Malik Djebena (Tahar Rahim) é condenado à uma
pena de seis anos numa penitenciária francesa, onde os detentos dividem-se
entre grupos étnicos: os poderosos e tentaculares corsos; os perigosos e
acuados muçulmanos, e outros (negros, egípcios, ciganos e italianos). Djebena,
descendente de árabes, cai nas graças de Luciani (Niels Arestrup, magnífico), o
poderoso corso local, e a ele presta o favor inicial de um assassinato
encomendado –uma ação perturbadora que irá seguí-lo por todo filme.
Ao longo dos anos, ele vai ganhando confiança e
posição na hierarquia interna do presídio, enquanto paralelamente se alfabetiza
e adquire cultura, ao mesmo tempo em que trata de seus próprios (e prósperos) negócios
junto de seu sócio, o Cigano, e de seu único e genuíno amigo, Ryad.
Ao fim de sua longa estada na prisão, a
condução vigorosa e detalhada de Audiard, atenta aos aspectos pertinentes e
enxuta o suficiente para envolver qualquer público mostrará que Djebena não
terá se deteriorado como em muitos outros casos onde um personagem se vê
confinado na prisão durante boa parte da vida, mas sim terá conseguido se impor
e ascender.
Uma fantástica jornada que
Audiard torna vibrante e empolgante de se acompanhar.
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