A inventiva e certamente fantasiosa premissa
que engatilha o fio narrativo deste interessante thriller francês se vale de
toda a névoa aventuresca que aos olhos do público sempre cercou o cinema –é
preciso entrar no espírito da brincadeira, afinal, para engolir a trama que
acompanha uma típica femme fatale (vivida pela bela Sophie Marceau) que recebe
de seu misterioso amante –o personagem Anthony Zimmer, ausente do roteiro
durante quase todo o filme –uma incumbência das mais mirabolantes: Despistar a
interpol (em seu encalço deste que mudou o rosto com uma recente cirurgia
plástica) flertando com o primeiro passageiro remotamente semelhante a ele que
enxergar em um trem.
O escolhido por ela é um simples professor em
férias (Yvan Attal), para quem a atenção e o interesse de uma mulher daquelas é
algo tão assim extraordinário que os perigos e percalços que ele enfrentará,
sobretudo na segunda metade do filme, lhe parecem até devidamente justificados.
Este filme cheio de aventura, intriga e
divertidos lances de suspense do diretor Jerôme Salle assim coloca um
personagem plenamente real –e tão medíocre quanto pede a realidade –em
contraponto a todos os elementos e personagens típicos de um cinema nem um
pouco real: Temos as curvas sinuosas da femme fatale em uma Sophie Marceau já
não tão jovem, mas ainda deslumbrante; os artifícios da identidade trocada que
fizeram a fama de Alfred Hitchcock (e os realizadores exploram cada uma das
lições deixadas pelo mestre); a fusão inusitada e desigual entre humor irônico
e suspense aflitivo que dá um tempero todo particular à trama; aquela
reviravolta próxima do desfecho (e que, neste caso, não acaba fazendo lá muito
sentido), tão improvável e inesperada que tem a capacidade de alterar toda a
impressão filme que foi assistido; e mais um sem fim de detalhes que
acrescentam sabor ao filme.
E, de fato, tão saborosa resulta essa
improvável mistura que “Anthony Zimmer” se não foi aquele cult antológico, ou
aquele estrondo surpreendente de bilheteria e crítica, ao menos não passou
despercebido de Hollywood que tratou de refilmá-lo –de maneira habitualmente
inferior –com elenco ostensivo (Johnny Depp, Angelina Jolie e Paul Bettany) e
até mesmo uma direção um pouco ostensiva (o alemão Florian Henckle Von Donnersmarck,
diretor do vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “A Vida dos Outros”)
resultando no irregular “O Turista”. Dele falo um dia desses...
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