No principio, o escritor Guillermo Arriaga e o
diretor Alejandro Gonzáles Iñarritu dividiram uma rara compatibilidade
artística. Desse entendimento surgiu uma parceria que rendeu obras elogiadas
como “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel” –estes dois últimos filmados nos
EUA quando ambos já gozavam de um reconhecimento internacional.
Com a ruptura vieram as tentativas (de ambos os
lados) de seguir caminhos próprios.
Arriaga, após fracassar em estabelecer a mesma
sintonia com outros realizadores (vide o irregular “Búfalo da Noite”), buscou
ele próprio assumir as rédeas, como diretor dos roteiros que ele mesmo
concebia. O resultado é este drama promissor em sua contundência, e que ainda
leva o mérito de ter sido um dos primeiros filmes a revelar o talento de
Jennifer Lawrence –antes mesmo de sua indicação ao Oscar por “Inverno da Alma”.
Como é de hábito no cinema de Arriaga, três
linhas narrativas distintas, aos poucos, vão se revelando partes da mesma e
fatídica trama: Uma dona de casa adultera (Kim Basinger, ótima) tem seu caso
extraconjugal pouco a pouco constatado pela filha mais velha (Jennifer Lawrence,
bem novinha e entregando um trabalho exemplar); Noutro, a mesma adolescente,
agora já sem a mãe, que morreu, termina por se envolver com o filho do homem
que ela tivera como amante; Na última trama, uma mulher amarga e depressiva
(Charlize Theron, sempre focada) é confrontada com um passado que havia deixado
para trás, na forma da filha pequena que ela nunca conheceu.
São essas três excelentes atrizes que dão
solidez a este filme cuja estrutura da história, contada fora de ordem cronológica,
remete de fato às outras obras anteriores de Guillermo Arriaga. Ao encarar a
direção, ele termina realizando um trabalho muito semelhante ao estilo realista
e despojado adotado por Iñarritu, com seu registro seco, suas atuações
naturalistas e seu ritmo sucinto a anunciar uma tragédia iminente –o quê pode indicar tanto que ele não conseguiu desvencilhar-se da poderosa influência do
ex-parceiro, como também que, talvez, fosse ele a força criativa mais
predominante naqueles trabalhos.
Do jeito como está, “Vidas
Que Se Cruzam” fica bem aquém da excelência dos três grandes filmes que Arriaga
fez ao lado de Iñarritu, claro, mas é muito melhor do que “O Búfalo da Noite”.
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