quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Vidas Que Se Cruzam

No principio, o escritor Guillermo Arriaga e o diretor Alejandro Gonzáles Iñarritu dividiram uma rara compatibilidade artística. Desse entendimento surgiu uma parceria que rendeu obras elogiadas como “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel” –estes dois últimos filmados nos EUA quando ambos já gozavam de um reconhecimento internacional.
Com a ruptura vieram as tentativas (de ambos os lados) de seguir caminhos próprios.
Arriaga, após fracassar em estabelecer a mesma sintonia com outros realizadores (vide o irregular “Búfalo da Noite”), buscou ele próprio assumir as rédeas, como diretor dos roteiros que ele mesmo concebia. O resultado é este drama promissor em sua contundência, e que ainda leva o mérito de ter sido um dos primeiros filmes a revelar o talento de Jennifer Lawrence –antes mesmo de sua indicação ao Oscar por “Inverno da Alma”.
Como é de hábito no cinema de Arriaga, três linhas narrativas distintas, aos poucos, vão se revelando partes da mesma e fatídica trama: Uma dona de casa adultera (Kim Basinger, ótima) tem seu caso extraconjugal pouco a pouco constatado pela filha mais velha (Jennifer Lawrence, bem novinha e entregando um trabalho exemplar); Noutro, a mesma adolescente, agora já sem a mãe, que morreu, termina por se envolver com o filho do homem que ela tivera como amante; Na última trama, uma mulher amarga e depressiva (Charlize Theron, sempre focada) é confrontada com um passado que havia deixado para trás, na forma da filha pequena que ela nunca conheceu.
São essas três excelentes atrizes que dão solidez a este filme cuja estrutura da história, contada fora de ordem cronológica, remete de fato às outras obras anteriores de Guillermo Arriaga. Ao encarar a direção, ele termina realizando um trabalho muito semelhante ao estilo realista e despojado adotado por Iñarritu, com seu registro seco, suas atuações naturalistas e seu ritmo sucinto a anunciar uma tragédia iminente –o quê pode indicar tanto que ele não conseguiu desvencilhar-se da poderosa influência do ex-parceiro, como também que, talvez, fosse ele a força criativa mais predominante naqueles trabalhos.
Do jeito como está, “Vidas Que Se Cruzam” fica bem aquém da excelência dos três grandes filmes que Arriaga fez ao lado de Iñarritu, claro, mas é muito melhor do que “O Búfalo da Noite”.

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