Em 1994, os parceiros e camaradas James Cameron
e Arnold Shwarzenegger experimentavam situações distintas na carreira:
Schwarzenegger teve supremacia como astro de cinema de então ligeiramente
abalada quando, um ano antes, o seu equivocado “O Último Grande Herói” foi
esmagado nas bilheterias pelo fenômeno “Jurassic Park”, de Steven Spielberg.
Já, James Cameron crescia cada vez mais aos olhos de público e crítica como um
dos grandes artesãos de Hollywood, uma vez que seu último trabalho havia sido o
bem-sucedido “Exterminador do Futuro 2-O Julgamento Final” –na época a maior
bilheteria de todos os tempos, depois superado pelo mesmo “Jurassic Park”...
Para restaurar a boa fase do amigo Schwarzenegger,
o diretor Cameron resolveu retomar a parceria com ele, num projeto bem mais
inusitado –e um bocado mais manhoso e carregado de artifícios –do que os dois
primeiros “Exterminador do Futuro”: Tratava-se da refilmagem de um gracioso (e,
na comparação com esta megalomaníaca produção norte-americana, despretensioso)
filme francês de ação, “La Totale!”.
É claro que, com tais nomes envolvidos, tudo é
maior nesta refilmagem, e Cameron aproveita a oportunidade para fazer desta a
sua própria versão de 007; vale lembrar que somente um ano depois, em 1995,
Pierce Brosnan faria sua estréia como James Bond em “007 Contra Goldeneye”,
após uma ausência do personagem nas telas de cinema desde os anos 1980 (o
público, portanto, estava ávido por produções com esse apelo).
E contra muitas previsões “True Lies” resulta
algo de bastante notável! –até mesmo a composição de Schwarzenegger para um
Bond americano, mais truculento e brutamontes, mas ainda assim, cheio de estilo
e refinamento, é dotado de carisma e uma verve própria.
Ele é Harry Tasker, um agente secreto do
governo americano (seu chefe é, ninguém menos que Charlton Heston!) envolvido
em toda sorte de missões mirabolantes ao melhor estilo 007 –e que ganham toda a
moldura de arrojo e sofisticação que a direção de Cameron é capaz de
proporcionar.
Tasker, no entanto, vive o quê pode ser
considerada uma rotina das mais inrônicas na qual tem de esconder da mulher,
Helen (Jamie Lee Curtis, sobre quem há muito o quê falar), com quem é casado há
anos, sua real profissão: Ele arrisca-se em missões perigosas e arriscadas
pelos lugares mais inusitados do mundo, enquanto ela crê inocente que ele é um
mero analista de computadores.
Entretanto, surge uma ameaça de adultério: O
espião, tão soberano, viril e infalível em seu âmbito profissional corre o
risco de ser passado para trás por um vigarista de quinta categoria (vivido com
histrionismo impecável por Bill Paxton) que finge-se para Helen que é um –veja
só! –espião (?!).
Disposto a usar de seus recursos para colocar a
situação em ordem, Traske ameaça fazer com que essa estranha situação na qual
se encontra seu casamento venha a se espatifar de encontro aos perigos muito
reais de sua ocupação.
Especialista do gênero ação
e aventura, Cameron orquestra com habilidade uma narrativa distinta das sisudas
ficções científicas que primeiramente lhe reuniram com Schwarznegger. É, porém,
Jamie Lee Curtis quem rouba o filme dando à personagem de Helen, não apenas uma
metamorfose das mais deslumbrantes ao longo da trama (ela vai de desengonçada à
espantosamente sexy sem jamais perder uma empatia rara), como também uma
interpretação descontraída, sensual e engraçada. Por tal demonstração de
desenvoltura e competência –e por conseguir o feito de relegar os efeitos
visuais de última geração à segundo plano –ela conquistou um merecidíssimo
Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical.
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