Dentre os filmes realizados e lançados em
meados dos anos 1970 e 80 que buscaram discutir a pedofilia –levantando muita
controvérsia no processo –“Beau-Père”, ou “A Filha da Minha Mulher” é um dos
que mais divide o público no sentido de que há aqueles que o enaltecem como
obra poética (enxergando-o como o oposto perfeito de “Lolita”) e os que o
acusam de ser uma romantização de uma situação em que uma menina é seviciada ao
sexo.
Não há como chegar a uma conclusão a esse
respeito e, como a obra de pendores tão artísticos como transgressivos que é,
“Beau-Père” está e sempre estará aberto às distintas interpretações dos
expectadores o quê torna seu debate eterno.
Dito isso, é inegável que há um malicioso apelo
de escândalo no filme de Bertrand Blier (diretor de audazes observações de
comportamento sexual como “Corações Loucos” e “Por Amor e Por Dinheiro”). Ele
confronta a moralidade do público com uma premissa na qual é a figura da
ninfeta (Ariel Besse, de apenas 15 anos, num trabalho ousado e corajoso) quem
assedia um homem maduro (Patrick Dewaere) que, por acaso, vinha a ser casado
com sua mãe, falecida há pouco tempo.
Remy (Dewaere, numa atuação algo desleixada e
propositadamente sôfrega) é um músico que se torna viúvo abruptamente. Mal
administrando a decadência artística com a súbita responsabilidade de cuidar de
sua enteada, a adolescente Marion, interpretada por Ariel, ele se torna alvo
das investidas sedutoras dela –que parece ter desenvolvido idéia fixa em perder
a virgindade com ele.
Inicialmente titubeante –como o são as
tentativas de quem pouca experiência possui –as estratégias de sedução da jovem
se intensificam, por mais dissimuladamente desesperados (!) sejam os esforços
dele em evitá-la. E, na segunda metade do filme, ele por fim cede aos encantos
dela: O filme de Bertrand Blier, para deleite dos mais afoitos, não se furta,
nesse ponto, em entregar as cenas de sexo que desde o início vinha prometendo
–e era esse, afinal, o mote disfarçado do filme; um filme erótico que versa
sobre a sexualidade de uma adolescente.
Hoje, tal obra jamais alcançaria, sem muitos
transtornos, o circuito comercial.
É verdade que o diretor Blier impõe essa
situação como forma de coagir o público a uma conclusão diferente da execração
adequadamente ética, inevitável em obras como “Lolita” –da qual este filme
realmente tenta se afastar de todas as maneiras –e ele ainda o faz encenando
tudo num viés de filme romântico, com todos os reflexos condicionados do gênero
(para tanto, este trabalho é, por isso mesmo, notadamente mais contido, sutil e
bem menos sarcástico do que suas outras obras), a despeito da imensa
improbabilidade de seu enredo.
No final, pode-se
argumentar que Blier travestiu uma obscura fantasia masculina sob o disfarce de
um drama elegante.
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