quarta-feira, 18 de maio de 2016

Matrix

A inovação pulsa de todos os âmbitos deste cultuado trabalho dos Irmãos Wachowsky, seja no aspecto técnico ou temático. Mesmo hoje, dezessete anos depois de seu lançamento, ele ainda preserva uma atmosfera de ineditismo, de arrojo.
Olhando em perspectiva, dá até para ver o quanto “Matrix” era necessário: O Século XX ficava para trás e, naqueles idos de 1999, o cinema estava ainda devendo um grande filme que falasse de maneira genuinamente instigante, sobre realidade virtual.
Os Wachowsky, contudo, foram além e montaram toda uma mitologia, rica e complexa, em cima dessa proposta, capturando a imaginação das platéias e de toda a geração de expectadores formados nos cínicos anos 1990, onde aprenderam a achar que não havia nada que não soubessem e que, em última instância, não haveria nada que os surpreenderia.
Ao chegar às salas de cinema, “Matrix”, mesmo com a concorrência acirrada de “Star Wars Episódio 1 –A Ameaça Fantasma”, mostrou que eles estavam errados.
E é irônico, portanto, que a premissa do filme parte do princípio de que, a realidade que conhecemos, é uma mentira: Neo (Keanu Reeves, num dos grandes papéis de sua vida) é um hacker que pressente, na incompletitude lisérgica de sua vida, uma inadequação que, ele suspeita, pode significar algo mais; um indício de que o mundo tem mais segredo do que lhe é permitido enxergar por meio de sua ininterrupta fachada cotidiana.
Se a vigilância ante suas aparentemente triviais ações é um sinal disso, Neo já tem: Ele é procurado por 'agentes' liderados por um ameaçador, reptiliniano e primorosamente sarcástico Smith (Hugo Weaving, sensacional), dispostos a acompanhar de perto seus passos a fim de encontrar um lendário líder terrorista conhecido como Morpheu.
Certa noite, a revelação que Neo tanto procurou vem até ele: Guiado pela misteriosa Trinity (Carrie Anne-Moss, uma baita personagem de ação) Neo descobre que a humanidade sem saber é prisioneira das máquinas que mantêm os humanos num estado vegetativo enquanto induzem todos a uma realidade virtual denominada Matrix.
Após escapar dessa espécie de prisão (numa guinada de ambientação dentre as mais radicais e soberbas do cinema), ele junta-se a um grupo de revolucionários fugitivos liderados pela sabedoria de Morpheu (o magnífico Laurence Fishburne).
Eles acreditam na lenda de um homem predestinado a desenvolver grandes poderes dentro da Matrix, e assim livrar toda a humanidade. Eles acreditam que, depois de muitos anos, Neo tem uma forte possibilidade de ser esse homem.
Mesmo em sua sinopse, “Matrix” pode ser elaborado de diversas maneiras diferentes (na jornada do herói que remete a arquétipos presentes até mesmo na história do Rei Arthur; nas citações frequentes e à época inusitadas à filosofias orientais e um existencialismo incomum ao gênero; no subtexto questionador da realidade que o colocou lado a lado de grandes obras do final do milênio como "Clube da Luta"; e na visão desigual de conceitos tecnológicos que empregou ideias oriundas de nichos tidos então como alternativos entre as opções temáticas de blockbusters), e a maioria desses ângulos distintos deixaria muitas das sutilezas do roteiro de lado, embora, no final das contas, o filme dos Wachowsky acabe se impondo mesmo como um assombroso espetáculo de efeitos especiais que redefiniu paradigmas dos filmes de ação e ficção científica.

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