quinta-feira, 16 de julho de 2020

Predadores Assassinos

Lembra um pouco o conceito do sucesso “Águas Rasas”, a premissa básica desta produção de Sam Raimi dirigida pelo especialista Alexandre Aja. Como naquele filme, há uma mocinha bem defendida por uma talentosa e carismática atriz da nova geração –neste caso, Kaya Scodelario, de “Maze Runner” –e como nele, há também um perigo natural na forma de uma fera que caça na água e que ganha uma circunstância vantajosa para encurralar a protagonista numa tensa armadilha, da qual ela só sairá usando de muita perseverança, tenacidade e inteligência (além de um tanto de sorte).
Vamos aos fatos: Kaya vive Haley, uma jovem nadadora, já entrando numa fase estagnada de seu esporte, cujo pai, Dave (Barry Peper, de “O Resgate do Soldado Ryan”), foi seu próprio treinador antes das eventuais desavenças aparecerem.
Todos esses fatores –as nuances dramáticas mais evidentes a cercar os dois personagens protagonistas –já são deixados bem claros nos breves minutos iniciais; e nessa objetividade, já se nota o talento incomum dedicado ao filme.
Afinal, ao partir para os finalmentes, tal carpintaria dramática, ainda que nada memorável, fará toda a diferença na empatia que o expectador desenvolverá pelos apuros de pai e filha.
Moradora da Flórida, estado americano onde tempestades fazem parte do clima habitual, Haley vê pelos noticiários a chega de mais um tornado, ao mesmo tempo em que sua irmã lhe telefona, aflita pela falta de notícias do pai.
Impaciente, Haley resolve ir atrás dele, ignorando as advertências que encontra pelo caminho de que a região onde seu pai está será assolada pela tempestade –e, de fato, o aguaceiro que a produção consegue materializar na película é um fator de efeito imersivo fundamental no filme (dá pra imaginar o pesadelo legítimo que as filmagens devem ter sido para os atores!).
Ao chegar na antiga casa da família, Haley, após muita procura, encontra Dave no porão, machucado com um ferimento terrível no ombro e desacordado. O motivo, ela logo descobre: Dave foi ali encurralado por vários crocodilos descomunais que escaparam da fazenda próxima onde eram criados, e com as águas da tempestade inundando tudo, encontraram fácil acesso até a casa. Quando se dá conta desse fato, Haley já está encurralada no porão assim como seu pai.
Uma situação de ‘beco sem saída’ que testa os nervos do público ao mesmo tempo em que coloca à prova a capacidade dos protagonistas em desvencilhar-se do problema; premissa já bastante batida nas obras de terror que fizeram (e ainda fazem) o gosto de Sam Raimi, sempre um aficcionado do gênero. “Predadores Assassinos” acaba funcionando por uma série de razões peculiares: Porque a reunião de talentos (uma atriz jovem e eficiente, um diretor hábil, um roteiro sem firulas desnecessárias, um aparato técnico engajado e bem empregado) resulta absolutamente feliz; porque a paixão de Raimi e Alexandre Aja por esses códigos de gênero transparece em cada instante da narrativa; e porque a produção como um todo pulsa criatividade nas cenas que se seguem, pavimentando o filme, do início ao fim, com alta voltagem no que tange ao envolvimento emocional e à sensação sempre intensa de perigo.
O filão dos animais assassinos que ameaçam humanos já foi muito explorado no passado, e os realizadores de hoje ainda lidam com o problema de abordar a mesma ideia do eco-terror nos tempos politicamente corretos onde a preservação animal tem defensores tão ferrenhos e xiitas (e, com efeito, os crocodilos aqui ainda que sempre ameaçadores, não surgem vilanizados); todavia, o trabalho de Raimi e Aja passa por cima dos empecilhos ambientalistas compondo com notáveis ferramentas modernas um enxuto e aflitivo terror à moda antiga.

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