sexta-feira, 15 de julho de 2016

Maze Runner

   O pouco que se sabe é uma regra: Todo o mês, um novato surge no labirinto!
   É assim que tomamos conhecimento de tudo; através dos olhos do recém-chegado Thomas (Dylan O’ Brien). Como todos os quase cinqüenta garotos que vieram antes dele, Thomas teve suas lembranças apagadas (de inicio, sequer lembra o próprio nome) e seu estado ao emergir dentro do misterioso elevador de carga na Clareira é de perplexidade.
   A Clareira vem a ser um campo com floresta localizado no centro de um gigantesco labirinto e dele separado por imensas muralhas de pedra. Toda manhã as portas da muralha se abrem. Toda noite, elas se fecham. Ou seja: Os jovens que sobrevivem lá dentro têm todo o dia para tentar encontrar uma saída (o quê, nos três anos em que lembram de estar lá, jamais o conseguiram). À noite, eles sabem, não é prudente estar no labirinto: Criaturas perigosas (e monstruosas), apelidadas “verdugos”, rondam àquele lugar a partir do momento em que as portas se fecham.
   É nessa condição imutável –e toda ela proveniente do conceito de William Golding para “O Senhor das Moscas” –que surgiu uma espécie de sociedade composta por esses garotos perdidos, e que o protagonista Thomas vai, aos poucos, compreender em “Maze Runner-Correr Ou Morrer”.
   Os jovens criaram inúmeras regras para conviverem entre si. A mais importante delas: Todos estão terminantemente proibidos de entrar no labirinto. Os únicos autorizados para tanto são os “corredores”, selecionados entre os garotos mais rápidos.
   Assim que chega, o novato que surge todo o mês é avaliado e incluído em algum dos grupos: Os “corredores”; os “socorristas” (que zelam pela saúde de todos); ou os “construtores” (responsáveis pelas plantações que alimentam a todos e pelas estruturas da Clareira).
  Um conjunto de regras que funciona apesar da relativa curiosidade indomável que Thomas demonstra desde que chegou, isso pelo menos até a chegada da primeira garota a surgir no labirinto, a enigmática Teresa (Kaya Scodelario), cuja presença vem acompanhada de uma série de mudanças que colocarão tudo a perder.
   Tem-se então uma premissa na qual estão expostos e avaliados muitos das inclinações humanas referentes aos anseios primitivos do homem: Fascinante, por exemplo, o caso do personagem Gali (Will Poulter), que imediatamente hostiliza Thomas e seu intuito impetuoso de sair do labirinto e levar a todos consigo; para Gali, o labirinto não é uma prisão, mas o seu lar, todo o mundo que ele conhece e no qual se sente à vontade, e ele está pronto para neutralizar qualquer elemento que busque tirá-lo dessa sua zona de conforto.
   Quando ficam claros os passos largos e frutíferos que Thomas está dando na direção de finalmente deixarem o labirinto (e descobrirem a razão de terem sido lá deixados), a reação de Gali é uma desesperada indignação, um ultraje perante aquele invasor que se atreveu a tentar alterar um ciclo equilibrado que para ele funcionava com harmonia, e no qual não enxergava razão para abandonar.
   Em meio à aventura, necessariamente carregada de tensão e empolgação, que se segue, várias outras questões de ressonância moral e social vão surgir.
   Austero e atento às entrelinhas, o diretor Wes Ball soube ressaltar essas e muitas outras variações reflexivas embutidas na trama, preservando a verve filosófica que o romance de James Dashner parecia extrair do clássico de Golding e impondo um ritmo preciso e alucinante, construindo uma das melhores sagas juvenis dos últimos tempos. Qualidade que se mantêm mesmo comparando-o à “Harry Potter” e “Jogos Vorazes”, provavelmente os melhores produtos desse sub-gênero.
   Uma pena que a personagem Teresa, da forma como está, oferece poucas oportunidades para a bela Kaya Scodelario brilhar: Muito pouco sabemos dela durante a maior parte do tempo, e ela própria opta pelo silêncio ao invés de expressar o que sente ou pensa. E isso não muda muito no filme seguinte. Por falar nele...

   No segundo filme, “Maze Runner-A Prova de Fogo” acompanhamos os personagens a partir do ponto em que o primeiro filme os deixou: O mundo do lado de fora do labirinto não é tão seguro e tranqüilo quanto imaginavam.
   Ao que parece, um vírus capaz de transformar pessoas em zumbis dizimou grande parte da humanidade e Thomas e seu grupo, por se encontrarem numa espécie de laboratório de testes (era algo assim que o labirinto era...), são cobaias em potencial para a elaboração de uma cura.
Nessas condições, eles fogem do refúgio que lhes prometia abrigo, mas que no final das contas era só mais uma prisão, e ganham as extensões arenosas do deserto, à procura do misterioso grupo armado denominado “Braço Direito”.
   Novos personagens surgem para tornar mais nebulosa e ambígua a definição de heróis e vilões da trama. A explicação da existência do lúdico labirinto do primeiro filme mostra-se cheia de meandros complexos que aproximam “Maze Runner” do terreno da ficção científica distópica. O direto Wes Ball continua prodigioso e não permite que a brutal alteração de cenário e atmosfera em relação ao primeiro filme afete seu trabalho, entregando uma obra pulsante, ágil e enérgica, que não perde o fôlego nem mesmo quando sua duração excessiva ameaça pesar sobre a narrativa no ato final.
   O gancho final de “A Prova de Fogo” deixa tudo em aberto –no melhor estilo “Império Contra-Ataca” –para o episódio final, “A Cura Mortal”, e aí temos o curioso e inusitado fato que pode tornar “Maze Runner” uma saga singular no cinema comercial: Durante as filmagens do terceiro filme, um acidente tirou da ação o protagonista Dylan O’ Brien, isso e mais a inesperada gravidez de Kaya Scodelario levaram os estúdios da Fox a adiarem indefinidamente as filmagens de “A Cura Mortal” (que se achavam na metade).
   Ninguém sabe se o estúdio tem planos de retomar a realização do projeto, o que demandaria ainda mais custos em seu orçamento e acarretaria uma logística complicada para reunir todo o elenco e a equipe técnica novamente.
   Se a Fox optar pelo caminho mais fácil, e desistir do projeto depois que O’ Brien se recuperar, então “Maze Runner” entrará para a história como uma série sensacional e empolgante cujos fãs jamais tiveram a chance de ver como terminava.

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