sexta-feira, 15 de julho de 2016

Um Senhor Estagiário

   Robert De Niro é o tipo de ator que já não precisa provar nada a ninguém. Por mais que sua carreira tenha obras questionáveis como a recente comédia “Tirando O Atraso”, não há como apagar a glória de grandes realizações como “Táxi Driver”, “O Poderoso Chefão-Parte 2”, “O Franco Atirador”, “Touro Indomável” ou “Era Uma Vez Na América”, entre outras.
   Dessa forma, De Niro se dá ao luxo de, vez ou outra, relaxar (embora seus críticos costumem afirmar que, nos últimos anos, ele anda relaxando “demais”) em projetos completamente inofensivos e bobinhos como este “Um Senhor Estagiário”.
   De Niro é Ben, viúvo aposentado que, do alto de seus setenta anos, resolve aceitar uma vaga para estagiário sênior oferecida numa empresa de vendas via Internet, a fim de aprender coisas novas e preencher o tédio que começava a tomar sua vida.
   Sua chefe é a hiperativa e empreendedora Jules Ostin (Anne Hathaway) que inicialmente mostra-se arredia e pouco paciente para conviver com um funcionário que tem a mesma idade de seus pais, mas aos poucos, a presença sábia, paternalmente aconchegante e polida de Ben se torna imprescindível para ela.
   Como todos os outros filmes que realizou antes, este é um trabalho que reflete a personalidade de sua diretora, Nancy Meyers: Uma obra agridoce, feita para o expectador assistir sem maiores atritos ou arroubos, sem conflitos muito graves, nem qualquer tensão que exceda uma ou outra cena.
É tal e qual seus trabalhos anteriores; desde “Do Que As Mulheres Gostam”, com Mel Gibson e Helen Hunt, até “Simplesmente Complicado”, com Meryl Streep e Alec Baldwin, passando por “Alguém Tem Que Ceder”, com Diane Keaton e Jack Nicholson, e “O Amor Não Tira Férias”, com Kate Winslet, Cameron Diaz, Jude Law e Jack Black. E por aí se percebe a fórmula com a qual ela constrói seus filmes: Um elenco de dois ou mais nomes de respeito, conferindo credibilidade à uma trama leve, não raro uma miscelânea pasteurizada e inocente entre comédia, drama e romance.
   Os nomes da vez são De Niro e Anne Hathaway, longe daquele encanto apaixonante que ela conseguiu exalar em filmes irregulares como “O Diário da Princesa” e “Garotas Sem Rumo”. Anne conquistou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante ao interpretar Fantine no musical “Os Miseráveis”, de Tom Hooper e, em algum momento desse ínterim, parece ter perdido o brilho e o carisma, deixando transparecer ao público uma apatia que parecia antes não existir.
   Este “Senhor Estagiário”, por sua proposta e apelo, aparentava ser uma tentativa de voltar àquela boa fase. Ela interpreta curiosamente uma variação mais forçosamente simpática da chefe workaholic que ela mesma teve de confrontar (personificada por Meryl Streep) no bastante superior “O Diabo Veste Prada”.
   É possível, aliás, estabelecer uma relação entre esses dois filmes, por mais que este daqui, sendo tão insípido, tão suave que chega a ser sonolento, faça com que uma analogia pareça até desnecessária.

  É bonitinho e cheio de boas intenções, e a presença de Robert De Niro (ainda que seja possível flagrar uma ou outra impagável expressão de enfado que ele deixa escapar) nunca deixa de ser imponente, mas o cinema sempre teve, tem e graças ao Bom Deus, sempre haverá de ter filmes melhores e mais intensos para nos oferecer. Com sorte, pode até ser que De Niro encontre espaço em alguns deles também.

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