Tendo perpetrado um dos mais adorados cult movies dos anos 1990 –o inebriante “Feitiço do Tempo” –o diretor e roteirista Harold Ramis enveredou por uma premissa muito parecida, de novo extraindo humor e uma certa ternura de um tema que girava em torno da repetição.
Se “Feitiço do Tempo” era sobre um dia que se
repetia, “Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias” era sobre um homem que se
replicava. Tal homem é Doug Kinney vivido com compreensão singular de comédia
por Michael Keaton, ainda que a parceria certeira e bem azeitada do diretor com
Bill Murray, protagonista da obra anterior, não se repita. Todavia, Ramis
recrutou mais uma vez a adorável Andy MacDowell para o papel feminino
principal; ela é Laura, casada com Doug, com quem têm dois filhos.
As atribulações de Doug começam quando ele se
apercebe de que as tarefas domésticas, profissionais, familiares e matrimoniais
lhe sobrecarregam: Para dar conta de todas elas sem estafa, ele precisa se
dividir em vários. A questão, existencial para muitos pais da família, é resolvida
de forma literal por Doug: Ele conhece um inventor (Harris Yulin, de “O Lugar Onde Tudo Termina”) capaz de fazer um clone seu, uma cópia com sua aparência,
suas memórias e seu comportamento. Assim surge o Nº 2 a quem Doug incumbe de
encarregar-se do seu emprego como construtor civil em Los Angeles.
Entretanto, a comodidade de desdobrar-se em
mais de um leva Doug a encomendar mais um clone, Nº 3, desta vez, incumbido dos
serviços do lar, enquanto o Doug original tenta harmonizar as coisas em seu
casamento com Laura (tudo isso, diga-se, sem o conhecimento dela!). O curioso é
que as cópias, a partir do momento em que são instruídas a uma única ocupação
desenvolvem uma personalidade específica: Imerso no trabalho, Nº 2 se torna uma
versão fria e ranzinza de Doug, amargurado pelo distanciamento da mulher e dos
filhos e tornado anti-social; Nº 3, por sua vez, segue o caminho oposto,
ganhando ares mais sensíveis devido ao constante traquejo doméstico. E há,
ainda, um Nº 4 (!), uma cópia da cópia que resulta numa versão debilóide de
Doug, requisitado para auxiliar 2 e 3 em suas tarefas –e todos são
interpretados com versatilidade e primor por Keaton, um ator naquela época
ainda lembrado tão somente pelo sucesso de “Batman”, de Tim Burton, mas que
sempre ostentou insuspeito brilhantismo inclusive no difícil gênero da comédia.
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