É curioso que este “The Lincoln Lawyer” seja, para muitos, o marco zero da chamada ‘McConassence’ –o processo pelo qual, através de um punhado de filmes, Matthew McConaughey provou que não era um mero galã de filmes românticos, mas sim um ator capaz, competente e destemido –uma vez que ele é consideravelmente menos reconhecido do que os demais títulos que pavimentaram o caminho do astro rumo ao Oscar de Melhor Ator, tais como “Magic Mike”, “Killer Joe”, a primeira temporada de “True Detective”, o próprio “Clube de Compras Dallas” e “Interestelar.
Em termos cronológicos, no entanto, não restam
muitas dúvidas de que foi aqui onde tudo começou.
McConaughey vive Michael Haller, um advogado de
Los Angeles tarimbado em achar os atalhos em meio às tortuosas cirandas de
crimes, flagrantes, delitos e audiências que compõem a rotina judicial. Também
é um tanto quanto hábil em ignorar a ressaca moral originada do fato de
defender clientes que quase nunca são tão inocentes assim.
No roteiro de John Romano meticulosamente bem
inserido nos meandros e expedientes de filmes de tribunal –embora “The Lincoln
Lawyer” custe um pouco a se revelar como um –a dualidade a que se presta a
atividade do protagonista está esboçada em diversos aspectos de sua vida, inclusive
a pessoal: Haller é ex-marido de Maggie McPherson (Marisa Tomei), com quem tem
uma filha, e que, por ironia, é justamente promotora de justiça; a ex-esposa,
com quem Haller, portanto, precisa manter uma convivência senão dotada de
harmonia, ao menos, dotada de camaradagem, tem por ofício exatamente a oposição
ao que ele faz, lançar mão de argumentos para incriminar os mesmos meliantes
que Haller liberta.
Entretanto, a premissa caminha mesmo em direção
ao pulo do gato quando Haller é chamado para defender um réu num julgamento enganosamente
simples: Um ricaço (Ryan Phillipe) foi
acusado de espancar uma jovem prostituta. Haller deve inocentá-lo evidenciando
o fato de que ela talvez tenha armado para extorquir dinheiro dele.
Se no início tudo parece transcorrer como mais
um caso, dos tantos que ocupam, sem maiores preocupações, os dias do
desprendido advogado, logo, porém, um detalhe banal acende um alerta em Haller.
O caso parece, subitamente, adquirir ligação com outro, sucedido anos atrás, e
que resultou na condenação do cliente de Haller.
De alguma forma, os dois casos estão
relacionados, e o cliente atual de Haller pode não ser tão inocente quanto
afirma.
Contudo, na condição de advogado de defesa,
suas mãos estão atadas: Cabe a Haller se esforçar em inocentar seu cliente,
qualquer resultado diferente seria prejudicial para sua imagem e carreira,
ainda que os indícios de que ele defende agora um sociopata, vão se acumulando.
O filme dirigido com bastante eficácia por Brad
Furman lança assim uma pergunta ao expectador: Quais providências tomar quando
se descobre, já na metade de um processo judiciário, que o seu cliente deveria,
e merecia, ser condenado?
Não é tão simples a resposta, e nem mesmo o
filme de Brad Furman pretende nela chegar por meio de um caminho simplista:
Quando o julgamento finalmente toma conta da narrativa na absorvente segunda
metade, as cartas já se encontram dispostas na mesa apenas para que a direção e
o roteiro as trabalhem com perícia e minimalismo, atentos às minúcias de ordem
dramática e às reviravoltas imprevistas.
Muito pouco disso funcionaria se a frente de
tudo não estivesse um ator expressivo capaz de conduzir a plateia por uma trama
pontuada de diálogos e termos complexos: Como um prestidigitador que engana o
público com sua agilidade nas mãos, a atuação de McConaughey captura a atenção
do expectador mesmo quando o filme, em seu mergulho sem ressalvas nas
engrenagens jurídicas, não oferece razões para merecê-la.
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