O grupo inglês Monty Phyton (cujos integrantes, neste e em outros filmes, se multiplicam num sem-fim de personagens interpretados simultaneamente) já tinha provado ser hábil no humor nonsense, graças ao seu programa televisivo exibido na Inglaterra e ao longa-metragem para cinema “Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado”.
Com “A Vida de Brian”, eles provaram, na
verdade, serem destemidos. Há algo de corajoso –e não raro inconsequente –por
trás da ideia de conceber toda uma saga banhada em humor corrosivo e demolidor
sobre um homem cuja vida transcorreu paralela à de Jesus Cristo (!).
Assim foi o caso do protagonista Brian (Graham
Chapman) que já começou nascendo numa manjedoura vizinha à do Salvador e, ao
longo de toda a vida, teve experiências que ladearam a de Cristo.
Na visão espumante de ironia do Monty Phyton,
entre outras coisas, o fato de viver em paralelo ao Messias acarretou à Brian
uma mediocridade sem precedentes –tão fulgurantes foram, para a história da
humanidade, os acontecimentos que se sucediam próximos aos do personagem
principal que sua luz terminou ofuscando o que ele fez e tentou fazer, e nesse
infortúnio existencial tremendo, os comediantes ciscam tentando procurar por
graça.
Onde quer que vá, e o que quer que faça, Brian
terminava sendo confundido com Cristo –isso ocorre até mesmo no momento do seu
nascimento, quando os três reis magos entregam primeiramente as oferendas à sua
mãe (interpretada, num trabalho afiado de travestismo, pelo próprio diretor
Terry Jones), para depois reparar seu equívoco à base de bordoadas (!!). Eventualmente,
após tanto ser tomado por profeta e salvador por outrem –não sem antes se
esforçar para seguir uma vida normal participando de corriqueiras revoltas
contra os romanos (?!) –Brian acaba, contra sua própria vontade, assumindo esse
papel.
Tão ácido, incontrolável e sistematicamente
irreverente “A Vida de Brian” é que expectadores convencionais correm o risco
de passar completamente despercebidos de sua perspicaz reflexão, uma vez que
ela está oculta atrás de uma quase intransponível muralha de humor inglês
depreciativo: A de que certas definições que nos perseguem em vida são assim
inescapáveis.
Essa curiosa e até profunda ideia não é nem um
pouco mastigada para o público: “A Vida de Brian” a entrega por meio de um filme
que nada mais é que um turbilhão incessante de cenas antológicas da comédia
refinada cinematográfica, como o reparo inesperado do centurião romano, mas
interessado em cortar a garganta de Brian pelos erros gramaticais da pintura
que ele fez numa parede que pela mensagem subversiva nela contida; a súbita (e
hilariamente injustificada) aparição de alienígenas em meio à fuga do herói de
alguns gladiadores; a crucificação, na qual é entoada, numa evocação
inacreditável dos musicais antigos, a estranhamente inapropriada “Always Look On
The Bright Side Of Life”, e muitas outras.
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