sexta-feira, 14 de abril de 2023

One Woman Or Two


 Raríssima comédia francesa dos anos 1980 que marca a primeira colaboração da estrela norte-americana Sigourney Weaver e o astro francês Gerard Depardieu (a segunda foi “1492-A Conquista do Paraíso”, de Ridley Scott). Para compreendermos um pouco melhor as origens deste projeto, vamos voltar à época da Velha Hollywood, em meados dos anos 1930, quando foi popularizado o gênero da comédia screwball. Levemente satírico, o screwball tinha como características chaves os enredos improváveis onde a classe alta (num reflexo do período da Grande Depressão) aprendia certos contextos específicos da realidade por meio de percalços graciosos, espirituosos e até românticos. Um dos inúmeros filmes muito lembrados desse nicho em particular é o clássico “Levada da Breca”, de 1938, a reunir em cena os astros Cary Grant e Katherine Hepburn. Pois eis que o filme francês “One Woman Or Two” vem a ser, portanto, uma refilmagem, em plenos anos 1980, de “Levada da Breca”!

Se a obra hollywoodiana dos anos 1930 tinha o viés ideológico de seu tempo como mensagem subliminar –as mulheres ascendendo como protagonistas tão dinâmicas quanto os homens, num mundo em que as bases sociais e econômicas enfrentavam turbulentas transformações –na realização francesa, está em foco uma espécie de percepção muito oitentista do que seria o entretenimento em geral, e a comédia em particular; o romance (como parecia inerente em muitos filmes até de outros gêneros daquela época) se apropria da premissa para gerar uma circunstância de estranhamento e comicidade que atende às demandas do público de então, mais interessado na curiosidade desconcertante da proposta em si do que na desconstrução de papéis comportamentais.

Dessa forma, temos então o arqueólogo interpretado por Gerar Depardieu, Dr. Julien Chayssac, realizando uma descoberta bombástica: Os restos mortais, datados de 2 milhões de anos atrás, do que seria o primeiro exemplar de uma mulher francesa! A descoberta do fóssil (logo apelidado Laura) transforma o tímido arqueólogo numa celebridade que, como costuma ocorrer em tais condições, não tarda a atrair aproveitadores. É dessa forma que se apresenta a ele a solícita, entusiasmada e petulante publicitária Jessica Fitzgerald (Sigourney Weaver, possivelmente, a única estrela americana dos anos 1980 capaz de igualar os trejeitos incomuns de Katherine Hepburn) representando uma organização de caridade disposta a usar da imagem de ‘Laura’ como campanha para uma marca de perfume (?!), contudo, Jessica é, na verdade, uma executiva da Madisson Avenue e seus interesses gananciosos no famoso fóssil passam longe de qualquer virtude. Isso fica claro quando aparece a Sra. Heffner (Ruth Westheimer), verdadeira representante de uma organização filantrópica, no caso, o Apadroamento Americano das Ciências. Nas confusões que se seguem, o atrapalhado e perplexo Dr. Chayssac e a voluntariosa americana Jessica encontram (claro!) uma inesperada afinidade amorosa.

Dirigido por Daniel Vigne (de “O Retorno de Martin Guerre”, por ironia, mais tarde, refilmado nos EUA como “Sommersby-O Retorno de Um Estranho”), “One Woman Or Two” –também reconhecido por seu título francês “Une Femme Ou Deux” –é um romance desigual e inusitado, muito similar à outras obras entregues por artesões da França naquela época (até mesmo fortuitas cenas de nudez da parte de Sigourney ele entrega!) que o tempo acabou por transformar quase numa lenda murmurada por poucos conhecedores em nichos cinéfilos mais específicos.

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