É curioso o que Hollywood tenta fazer com Anne Hathaway: Em “O Diário da Princesa”, filme que a revelou, tentaram convencer o público de que ela era feia (!), em “O Diabo Veste Prada”, de que ela era gorda (!!), e agora, em “Uma Ideia de Você”, de que ela é velha! Anne interpreta Solène Marchand, uma mulher divorciada, mãe de uma adolescente, dona de uma galeria de artes, à beira dos quarenta anos e incerta (quase desiludida) em relação ao amor. Numa inesperada viagem, na qual se vê obrigada a acompanhar a filha e outros dois amigos em um show do Coachela, Solène acaba –por meio de uma série de equívocos certeiros que volta e meia se sucedem na ficção –indo parar no trailer de uma celebridade, um dos membros de uma das boy bands do momento, o jovem cantor Hays Campbell (Nicholas Galitzine, do romance “Vermelho, Branco e Sangue Azul”).
Colhido pela embriaguez do amor à primeira
vista, Hays reencontra Solène em outra ocasião logo depois –quando entram, ela
e a filha, numa fila para pegar autógrafos –e dedica uma música para ela
durante o seu show. Dias depois, acaba indo parar (sob a desculpa de adquirir
obras de arte para seu apartamento em Londres) na galeria dela, e assim, de
situação em situação –e numa agilidade que os romances quase só encontram no
cinema –os dois pombinhos vão se enredando na paixão, sempre com a distância da
idade a pesar sobre eles, principalmente para Solène –ainda que, de fato, Anne
Hathaway não aparente ter idade para ser mãe dele, ao contrário do que ela
própria diz várias vezes ao longo do filme.
“Uma Ideia de Você” é baseado no livro de
Robinne Lee, um romance açucarado, antenado às predisposições comerciais e aos
anseios românticos de uma determinada parcela do público ao qual o filme deseja
de pronto se dirigir: Mulheres, numa idade acima dos vinte e poucos anos. Há,
inclusive, um persistente rumor a correr pela internet (negado veementemente pela autora) de que “Uma Ideia de
Você”, o livro, teria sido inspirado numa fanfic
(uma ficção eventualmente escrita por fãs sem qualquer aspiração comercial ou
profissional) protagonizada por Harry Styles, o membro mais proeminente da
banda One Direction –e, de fato, embora o filme cautelosamente conserve certa
distância de uma caracterização mais explícita, há muito em comum entre o
personagem Hays Campbell e a persona
real de Harry Styles (entre outras coisas, o fato de serem britânicos).
Ancorado na presença sólida de Anne Hathaway
–de longe, o nome mais relevante de todo o elenco –o filme dirigido por Michael
Showalter (diretor de “Os Olhos de Tammy Faye”, com Jessica Chastain) parece
tão confiante na trama esmiuçada no livro, tão intoxicado pelo apelo certeiro
do gênero romântico abordado, que pouco faz além do básico para que seu
resultado final se imponha com primazia na tela. Fica no ar uma alusão, não
completamente explorada, ao enredo do ótimo “Um Lugar Chamado Notting Hill”, no
qual um rapaz comum se envolve romanticamente com uma grande estrela de cinema.
No entanto, em “Uma Ideia de Você” são as diferenças entre esses dois filmes
que mais parecem se impor: Em primeiro lugar, porque aquela trama era acompanhada
do ponto de vista masculino e aqui, atendendo à demanda do público para o qual
é feito, o ponto de vista é feminino; em segundo, por “Notting Hill”, muito
habilidosamente, se concentrava no árduo e, por que não, divertido processo em
que um relacionamento tão assim improvável se materializa e se torna real –em “Uma
Ideia de Você”, a concretização do romance até que acontece relativamente
rápido e fácil (ou, ao menos, é assim que o filme faz parecer), se debruçando
com mais minúcia sobre os contratempos enfrentados pelo casal para manter-se
junto. Essa é a questão em torno da qual o filme deseja refletir: O quanto as
pessoas –os fãs, a internet, os
membros da família, os amigos –se predispõem a opinar e a julgar um
relacionamento alheio quando este vem envolto em circunstâncias que fogem do
normal (neste caso, a nem tão aparente diferença de idade), e tão mais sujeito
ao escrutínio está esse relacionamento quando uma das partes é uma celebridade
cuja posse reclamada dos fãs ignora o direito que a pessoa tem de viver uma
vida íntima.
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