Este típico filme da Disney (com todos os
benefícios e ressalvas dessa afirmação) sempre foi mais lembrado como sendo a
estréia da bela Anne Hathaway no cinema (não foi, ela estreou de fato num filme
independente chamado “O Outro Lado do Céu”, filmado antes, mas lançado depois)
e também por trazer, depois de um longo hiato de tempo sem filmar, a grande
Julie Andrews de volta aos holofotes.
Na simplicidade e singeleza que o trabalho do
diretor Garry Marshall ostenta ele não parece (e talvez nem queira) fazer jus a
nenhuma dessas afirmações: “O Diário da Princesa” adapta com largas liberdades
criativas, a obra de Meg Cabot sendo pouco mais que um passatempo juvenil, um
filme adolescente notadamente realizado por um veterano que enxerga a própria
adolescência com um sentimentalismo idealizado, um romantismo pouco verossímil
e um inofensivo filtro familiar –mais ‘Disney’ impossível!
Vivida com encanto desengonçado apropriado por
Anne Hathaway (e que providencialmente experimenta no filme aquela metamorfose
típica de ‘patinho feio’ para a garota linda que é de fato), a protagonista Mia
Termopolis é uma menina deslocada em sua escola.
Desajeitada e desastrada, ela mal é percebida
pelo garoto por quem é apaixonada. Quando muito, ele tropeça nela pelos corredores
do colégio.
Mas eis que surge uma certa avó paterna (Julie
Andrews, sempre de uma classe indefectível) que Mia nunca conhecera, com uma
notícia que muda a vida dela de cabeça para baixo. Sua avó é na verdade a
ilustríssima monarca da longínqua nação de Genóvia, e Mia é a sucessora direta
ao trono, o que a torna assim uma princesa.
Sabe-se lá porque o roteiro deste filme oferece
soluções e situações que diferem do argumento um pouco mais bem estruturado do
livro e cria assim armadilhas para si mesmo –há muitas explicações que nunca
soam convincentes ou coerentes quando o público começa a se perguntar porque
Mia era uma princesa e ninguém em sua vida fez muita questão de lhe explicar
isso.
Como forma de rebater esses detalhes com um tom
lúdico, o tratamento dado pelo diretor Marshall, tão insistentemente ingênuo,
procura dar ao filme o mais pasteurizado dos aspectos de contos de fadas.
Atenção ele tem aos aspectos que, no argumento,
o fascinam de fato: Como a variação de “Pigmalião” (presente, também ela, na
premissa de “Uma Linda Mulher”) na qual a jovem Mia terá agora que provar a si
própria e a todos a sua volta que existe uma princesa dentro daquela menina de
cabelos despenteados e gestos atrapalhados. Ele também promove uma mudança na
dinâmica entre os personagens da avó-rainha e seu guarda-costas Joe
(interpretado pelo ator-assinatura de Marshall, Hector Elizondo): Eles são,
aqui, enamorados que ocultam sua relação do mundo exterior –manobra possível
graças à química genuína entre Julie e Hector.
É um filme simples e
inofensivo, para dias mais leves e mentes mais desocupadas –a definição,
durante muito tempo, de entretenimento para os Estúdios Disney.
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