quinta-feira, 3 de maio de 2018

O Diário da Princesa

Este típico filme da Disney (com todos os benefícios e ressalvas dessa afirmação) sempre foi mais lembrado como sendo a estréia da bela Anne Hathaway no cinema (não foi, ela estreou de fato num filme independente chamado “O Outro Lado do Céu”, filmado antes, mas lançado depois) e também por trazer, depois de um longo hiato de tempo sem filmar, a grande Julie Andrews de volta aos holofotes.
Na simplicidade e singeleza que o trabalho do diretor Garry Marshall ostenta ele não parece (e talvez nem queira) fazer jus a nenhuma dessas afirmações: “O Diário da Princesa” adapta com largas liberdades criativas, a obra de Meg Cabot sendo pouco mais que um passatempo juvenil, um filme adolescente notadamente realizado por um veterano que enxerga a própria adolescência com um sentimentalismo idealizado, um romantismo pouco verossímil e um inofensivo filtro familiar –mais ‘Disney’ impossível!
Vivida com encanto desengonçado apropriado por Anne Hathaway (e que providencialmente experimenta no filme aquela metamorfose típica de ‘patinho feio’ para a garota linda que é de fato), a protagonista Mia Termopolis é uma menina deslocada em sua escola.
Desajeitada e desastrada, ela mal é percebida pelo garoto por quem é apaixonada. Quando muito, ele tropeça nela pelos corredores do colégio.
Mas eis que surge uma certa avó paterna (Julie Andrews, sempre de uma classe indefectível) que Mia nunca conhecera, com uma notícia que muda a vida dela de cabeça para baixo. Sua avó é na verdade a ilustríssima monarca da longínqua nação de Genóvia, e Mia é a sucessora direta ao trono, o que a torna assim uma princesa.
Sabe-se lá porque o roteiro deste filme oferece soluções e situações que diferem do argumento um pouco mais bem estruturado do livro e cria assim armadilhas para si mesmo –há muitas explicações que nunca soam convincentes ou coerentes quando o público começa a se perguntar porque Mia era uma princesa e ninguém em sua vida fez muita questão de lhe explicar isso.
Como forma de rebater esses detalhes com um tom lúdico, o tratamento dado pelo diretor Marshall, tão insistentemente ingênuo, procura dar ao filme o mais pasteurizado dos aspectos de contos de fadas.
Atenção ele tem aos aspectos que, no argumento, o fascinam de fato: Como a variação de “Pigmalião” (presente, também ela, na premissa de “Uma Linda Mulher”) na qual a jovem Mia terá agora que provar a si própria e a todos a sua volta que existe uma princesa dentro daquela menina de cabelos despenteados e gestos atrapalhados. Ele também promove uma mudança na dinâmica entre os personagens da avó-rainha e seu guarda-costas Joe (interpretado pelo ator-assinatura de Marshall, Hector Elizondo): Eles são, aqui, enamorados que ocultam sua relação do mundo exterior –manobra possível graças à química genuína entre Julie e Hector.
É um filme simples e inofensivo, para dias mais leves e mentes mais desocupadas –a definição, durante muito tempo, de entretenimento para os Estúdios Disney.

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