Outrora um crítico de cinema (da prestigiada
“Cahiers do Cinema”) tornado depois cineasta em meio ao movimento da Nouvelle
Vague, o diretor François Truffaut era daqueles realizadores cuja paixão pelo
cinema emanava a cada trabalho.
Natural que uma de suas mais conhecidas obras
(e aquela pela qual conquistou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro) venha ser
assim um filme de metalinguagem, de abordagem tão ou mais pessoal que aquela
que Federico Fellini usou em “8 e ½” –sem sombra de dúvidas, a grande
influência para este projeto!
Se em seu filme Fellini disfarçava seu carinho
e seu humanismo com uma certa ironia, Truffaut não esconde nem um pouco seu
afeto: Ele escala a si mesmo no papel daquele que aparentemente é o
protagonista, o diretor do filme, a respeito de cuja realização toda a trama
irá girar. Mas, o diretor vivido por Truffaut, embora um reflexo absoluto do
próprio Truffaut (há durante o filme até mesmo uma cena de lembrança em que
ele, garotinho, rouba fotos dos filmes de um cinema) inúmeras vezes é deixado
de lado em prol de outros personagens que ganham importância a medida que a
narrativa, episódica, esmiúça várias situações aqui e ali em torno das
complicações de se realizar um filme.
Personagens como Valentina Cortese
(merecidamente indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante), no papel de uma atriz
assolada por um ataque de nervos iminente devido ao fato constrangedor de
tropeçar o tempo todo em falas inesperadas do roteiro, ou confundir-se com as
marcações adequadas da cena.
E, mais à frente e mais especialmente,
Jacqueline Bisset, no esplêndido papel da estrela principal que, inicialmente
vista com desconfiança pela equipe que tem de dar conta dos estrelismos de seus
atores e atrizes, se torna crucial para o desenrolar da trama e, perto do fim,
mostra maleabilidade para fazer o que for preciso para o filme ser concluído.
No carinho e na leveza
incondicionais que Truffaut atribui mesmo aos acontecimentos mais tensos, o
público corre o risco real de deixar escapar assim algumas denuncias,
piscadelas e detalhes pertinentes que ele parece apontar em torno de um
processo artístico que envolve também todas as imbricações de um indústria, a
fogueira das vaidades do show buziness e a via de mão dupla moral que
infelizmente pode existir em todo e qualquer ofício.
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