quinta-feira, 3 de maio de 2018

Um Lobisomem Americano Em Londres

Certamente haviam territórios ainda inexplorados do gênero de terror nos anos 1980, daí este filme dirigido por John Landis, feito com uma apurada mescla de terror e comédia (a especialidade dele), ser assim tão marcante até os dias de hoje.
Girando em torno do mito do licantropo que tantos interessantes filmes rendeu –e que, de alguma forma, sempre habitou, ao lado do vampirismo, o subconsciente coletivo do público referente ao medo –o filme de Landis começa com dois jovens mochileiros americanos perambulando por algumas aldeias da Inglaterra, David (David Naughton), o protagonista e seu amigo Jack (Griffin Dune, de “Depois de Horas”, de Scorsese). Simpáticos, eles chegam a uma taverna cheia de aldeões mal-humorados, mas, conquistam a afeição dos moradores o suficiente para serem alertados de um perigo que ronda as noites de lua cheia. Julgando aquilo uma mera superstição, os dois seguem viagem noite adentro e são atacados por uma espécie de fera que trucida Jack e deixa David muito machucado.
Enviado para o Hospital Geral em Londres, ele recupera-se e, nesse meio tempo, até mesmo inicia um envolvimento com sua bela enfermeira Alex (Jenny Agutter, maravilhosa).
O calvário de David, no entanto, está apenas por começar: A partir de agora, nas noites de lua cheia, ele sofrerá uma metamorfose acarretada pelo ataque –se tornará um lobisomem; e a seqüência de transformação, capturada em detalhes minuciosos e primorosamente técnicos, é um trabalho virtuosístico que nenhum filme de terror antes dele foi capaz de engendrar. Antes, que fique bem claro: Numa dessas coincidências irônicas que afligem as produções comerciais, foi lançado, naquele mesmo ano, “Grito de Horror”, de Joe Dante, que igualmente trazia lobisomens em seu tema e uma cena de transformação também com pretensões de ser uma referência técnica no gênero.
“Um Lobisomem Americano Em Londres” se sobressai pela qualidade técnica bastante impecável que ostenta ao longo de todo o filme –também as aparições do amigo Jack para o protagonista, depois de morto com o rosto dilacerado, são exemplos notáveis de seu alto critério estético. O único porém, mais facilmente verificável nos dias de hoje do que na época em que foi lançado, é justamente a insistência do diretor Landis em inserir passagens cômicas (algo possivelmente inerente à sua personalidade) que se alternam com a sinistra e dramaticamente contundente circunstância do personagem principal. Por mais que cenas como aquela em que David, na manhã seguinte após sua primeira transformação em lobisomem, usa balões para encobrir sua nudez quando acorda em pleno parque, sejam lembradas como memoráveis pelo público, o resultado final do filme teria sido muito mais antológico se ele apresentasse uma inclinação mais firme e convicta na direção do terror de fato, do que sendo um filme oscilante que de uma cena macabra salta prontamente para um momento engraçadinho.
O mestre Alfred Hitchcock sempre provou –com ocasionais momentos de humor em seus trabalhos –que as intervenções cômicas devem ser econômicas e homeopáticas para que a platéia possa extravasar seu nervosismo, em meio a obras sempre poderosas em sua capacidade de afligir e amedrontar.

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