O documentário em quatro episódios do Disney Plus traz de volta à tona um dos mais impactantes casos de desaparecimento registrados na mídia brasileira até hoje, com o bônus de entregar algumas revelações até àqueles que se julgavam informados de todos os percalços ocorridos na época, fruto certamente do empenho dos realizadores e do notável trabalho de pesquisa histórica e investigativa engendrado por eles: Vemos depoimentos de familiares e envolvidos no caso (de investigadores até repórteres), pessoas próximas, notas da imprensa, trechos de telejornais e programas do período, além muitas fotos, videos caseiros e dramatizações.
No dia 9 de janeiro de 2004, a jovem Priscila
Belfort, irmã do lutador de MMA Victor Belfort, saiu de seu trabalho, no prédio
da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, no centro do Rio de Janeiro, para a
hora do almoço e nunca mais foi vista. Aflita, a família imediatamente iniciou
uma busca conforme o avançar das horas foi tornando ainda mais preocupante o
sumiço de Priscila, uma moça, segundo todos que a conheceram, sem qualquer
traço de rebeldia ou de imprevisibilidade. Assim que o desaparecimento
completou suas usuais 24 horas, a polícia foi chamada e, logo em seguida, a
decisão de reportar tudo massivamente à mídia foi tomada –usando em favor da
investigação o enorme apelo popular de Victor Belfort e de sua esposa, Joana
Prado, a Feiticeira do Programa “H” da Band. Quando logo a possibilidade de um
sequestro foi ventilada, a Divisão Anti-Sequestro do Rio de Janeiro, o DAS, foi
acionado.
Em seu primeiro episódio, o documentário
esmiúça as primeiras impressões sobre o ocorrido. A dor inapelável que se
abateu sobre a família –e que tornou-se insuportável a medida que os anos foram
se passando. As investigações obstruídas por denúncias falsas de pessoas que
telefonavam para a polícia de todos os cantos do Brasil afirmando terem visto
ou saberem de algum fato crucial acerca de Priscila Belfort, o que fomentou o
caso como uma espécie de lenda urbana emergente, mas prejudicou e muito o já
claudicante trabalho da polícia carioca. E a reação a um só tempo solícita e
sensacionalista dos programas de TV daqueles tempos –a apresentadora Sônia Abrão
relembra os comunicados impactantes que se sucederam e o apresentador Gilberto
Barros relata que chegou a acrescentar mais 10 mil reais à recompensa por
informações de iniciais 5 mil reais que foi divulgada, ele também participou de
um esforço ao vivo (mostrado em filmagens da época) onde fez um apelo em rede
nacional para que alguém munido de informações entrasse em contato com a rede
de TV.
O segundo episódio concentra-se em duas
situações que pareceram apontar para alguma esperança de resolução: A primeira,
quando um traficante chamado Gerinho, notório praticante de
sequestros-relâmpagos, afirma para um refém ter sido responsável pelo fim de
Priscila (verdade ou bravata?); quando tal refém escapa e leva essa informação
ao DAS, as investigações, transcorridas por quase três anos, levam a polícia a
uma incursão no Morro da Providência, favela onde Gerinho teria se refugiado
–no entanto, somente um de seus cúmplices (que alega não saber nada) é preso –e,
mais tarde, quando uma pista real do paradeiro de Gerinho aparece, no Complexo
do Alemão, o resultado acaba sendo uma caótica invasão policial convertida em
zona de guerra, durante a qual Gerinho acaba fulminado por um tiro de fuzil,
levando com ele todas as respostas que poderia ter fornecido ao mistério. A
segunda situação envolve o depoimento de Elaine Paiva que, em 2007, entregou-se
ao Ministério Público alegando ter matado Priscila e enterrado o corpo num
terreno abandonado em São Gonçalo. As incoerências logo percebidas pelo
delegado nos subsequentes relatórios feitos por Elaine e os resultados
infrutíferos das escavações no terreno, que não encontraram indícios de restos
humanos, levaram Elaine a admitir que seu relato era mentiroso, tendo servido
apenas para atrapalhar ainda mais o avanço das investigações.
O terceiro episódio procura jogar luz na
trajetória pregressa da própria Priscila, mostrando suas desilusões e os
percalços que a levaram à depressão (o divórcio do pais, a cobrança paterna, a
desoladora viagem de intercâmbio que fez aos EUA) em paralelo com a ascensão de
Victor no mundo do MMA.
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