A peça de Plínio Marcos, escrita em 1966, bem como seu comentário sobre a desigualdade social e a exploração humana nos subúrbios cariocas (na infância, Plínio Marcos conviveu com o submundo do porto de Santos), era de fato muito mais eficaz e funcional no teatro, ambiente para a qual foi originalmente criada. Pode-se apontar o dedo com facilidade para o diretor Neville D’Almeida que –como lhe é de praxe –preferiu extrair do texto muito do seu caráter de denúncia, para focar em questões mais filosóficas, bem pouco óbvias, e outras mais mundanas –tanto que algumas passagens se convertem em desvarios nada palatáveis que só fortalecem o teor grotesco do filme –enfatizando com isso seu estilo irrequieto e inconsistente para retratar o mundo cão, no qual o grande ponto de destaque é a presença (e a magnífica nudez sucessivamente explorada) da atriz Vera Fischer, então no auge da beleza e da gostosura daqueles anos 1990 de então.
Na trama, o cafetão Vado (Jorge Perugorría, do
sucesso cubano “Morango & Chocolate”, tenebroso com seu sotaque!) invade
numa madrugada o quarto da prostituta sob seus cuidados, Neusa Suely (Vera
Fischer, boa atriz, ainda que dona de um glamour próprio que não condiz com a
marginalidade da personagem). Vado quer que Neusa lhe entregue o ‘lucro da
noite’, no entanto, o dinheiro desapareceu. A fim de livrar-se das acusações de
Vado, Neusa acusa o vizinho homossexual Veludo (Carlos Loffler, de “Feliz Ano
Velho”) do roubo. E está estabelecida assim uma ciranda de tragédia que
conduzirá esses três personagens madrugada adentro em direção à uma desforra
que consumirá a todos eles.
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