O sentimento de posse ou de materialismo parece
nortear os personagens durante toda trajetória a que são submetidos em “House
Of Sand And Fog”. E esse sentimento materializa-se na composição das cenas, nos
meandros das ricas interpretações, vastas em emoções que flutuam no ar, na
forma com que o diretor Vadim Perelman expõe a situação como um artifício que
nubla a percepção e o bom senso dos personagens.
Não à toa a névoa surge como um dos
personagens, a envolver ou desanuviar este ou aquele cenário como um véu
invisível que descortina uma coisa para encobrir outra.
É uma das muitas metáforas a que este filme, de
considerável carga alegórica, se permite.
Perelmam leva um olhar estrangeiro,
inquisitivo, desmistificador ao conceito do sonho americano, como o fizeram
muitos diretores não-americanos no passado. É uma visão europeizada sobre
elementos tão norte-americanos. É curioso, portanto, que haja uma certa
superficialidade no retrato da família de imigrantes sírio-libaneses. Eles são
definidos por detalhes de culturas diferentes que aparecem a olhos mais
atentos. E Perelman insiste num verniz mainstream (reforçado pela trilha
sonora) para um projeto incontornavelmente autoral.
É o elenco, contudo, o grande brilho de “Casa
de Areia e Névoa”. Apesar da caracterização hesitante, Ben Kingsley e Shorei
Aghdashloo são presenças excelentes. Ele; a um só tempo agressivo e dócil,
marido e pai convulsionado pela vontade implacável de dar uma vida confortável
a sua família, pouco a pouco consumido pela angústia de ver-se fracassando
nesse intento. Ela; a personificação da esposa tradicional do oriente médio,
incapaz de livrar-se dos estigmas arraigados. Mesmo sendo imigrante num mundo
novo, seu olhar silencioso é o de quem tenta, em vão, entender o que se passa
(seja no nível emocional ou regulamentar), afinal os fatos que se desdobram
dizem respeito a leis, valores e implicações de um país que lhe é estranho.
Shorei tem pouco tempo em cena, é bem verdade.
Mas, se falta algo nos coadjuvantes, o esmero
para fazer uma protagonista completa é concretizado. Jennifer Connelly,
recém-saída de “Uma Mente Brilhante”, onde venceu o Oscar de Atriz Coadjuvante
em 2001, tem aqui a oportunidade de ampliar suas percepções acerca da
capacidade de uma atriz em achar o tom de sua personagem. E a protagonista de
“Casa de Areia e Névoa” é desafiadora.
Sou suspeito para julgar,
visto que Jennifer Connelly é uma de minhas atrizes prediletas, e sem dúvidas,
uma das mulheres mais lindas do planeta. Mas é admirável o fato de que ela
busca filmes incomuns, complexos, não raro sombrios, para crescer como intérprete,
a despeito das comédias românticas da vida que, se quisesse, ela faria fácil,
fácil. Aqui, como em muitos títulos de sua carreira, ela encara uma mulher
devastada pela depressão, pelo abandono do marido, pelo retorno iminente ao
alcoolismo, e a soma de circunstâncias desfavoráveis que a levaram a tornar-se
uma sem-teto. Em suma, em torno de Jennifer Connelly respira uma trama sobre a
mais absoluta sensação de desamparo.
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